Os latifundiários socialistas
Como todos sabemos, nas democracias parlamentares, os deputados representam o círculo pelo qual são eleitos. Ora, o Alentejo, apesar de representar um terço do território nacional, só tem 8 deputados na Assembleia da República, o que significa que as eleições portuguesas estão viciadas à nascença, porque garantem sempre a vitória dos lisboetas e a derrota dos alentejanos.
Eu e os meus filhos não somos alentejanos por termos nascido no Alentejo. Um alentejano nasce num sítio qualquer. O local do nascimento é uma escolha dos nossos pais, o local onde somos plantados e fixamos as nossas raízes é que nos define. E eu e os meus filhos somos alentejanos, precisamente porque decidimos fixar as nossas raízes numa vila alentejana.
Também gostaria que os meus sete netos escolhessem ser alentejanos, mas só muito dificilmente o serão, tendo em conta as políticas criminosas de desertificação do Alentejo, levadas a cabo, designadamente, pelo governo socialista, promovendo a agricultura industrial, feita com abundância de químicos, com a destruição dos solos e consumos brutais de água, ou grandes projectos imobiliários acoplados a sucessivos de campos de golfe.
Os governantes lisboetas são hoje os novos latifundiários do Alentejo. Sendo certo que os latifundiários do tempo do fascismo ainda sentiam algum apego à terra e ao montado. Hoje os novos latifundiários vivem em Lisboa e exploram o Alentejo, à distância, sem qualquer sentimentalismo pelo chão sagrado do Alentejo e pelo povo alentejano, apenas preocupados em levar a cabo modelos de exploração que lhes garantam elevados rendimentos a curto prazo, sejam agrícolas, sejam turísticos.
O argumento dos pastores do centrão lisboeta, que todos os dias pregam nos órgãos de comunicação social nacionais, com que defendem e justificam o encerramento de escolas, centros de saúde e de serviços no interior é de que não existe interior num país cuja fronteira terrestre fica a menos de 200 Km do litoral e em que todos os portugueses estão a menos de duas horas de um aeroporto. Eu concordo inteiramente com este argumento, tanto assim que sou contra a Regionalização proposta pelo PS e pelo PSD.
Mas este argumento tanto vale para um português de Beja como para um português de Lisboa. No entanto, quando se fala do novo aeroporto de Lisboa, o argumento deixa de se aplicar, caso contrário o aeroporto de Beja seria a alternativa natural.
E como se explica que hospitais como S. José, Santa Maria e Curry Cabral, que servem o país inteiro, estejam situados no centro de Lisboa, em vez de estarem situados a 80 ou 100 Km de Lisboa para facilitar o acesso de todos os portugueses em igualdade de circunstâncias?
Lisboa e os lisboetas tratam e olham para o Alentejo, assim como para Trás-os-Montes e a Beira interior, com o mesmo desprezo com que os castelhanos e a dinastia dos Filipes olharam para Portugal durante a ocupação filipina. Como todos sabemos, nas democracias parlamentares, os deputados representam o círculo pelo qual são eleitos. Ora, o Alentejo, apesar de representar um terço do território nacional, só tem 8 deputados na Assembleia da República, o que significa que as eleições portuguesas estão viciadas à nascença, porque garantem sempre a vitória dos lisboetas e a derrota dos alentejanos. Sendo certo que Lisboa e o Alentejo, tal como a Beira Interior e Trás-os-Montes, têm hoje interesses absolutamente opostos e inconciliáveis. No entanto, continuam a ter de gramar com leis feitas à medida dos lisboetas, sem terem os recursos, nem a densidade populacional, nem os meios de transporte, nem a população activa de Lisboa.
Ora, das duas uma: ou o Alentejo, assim como Trás-os-Montes e a Beira Interior, têm na Assembleia da República um peso correspondente ao seu peso territorial ou têm de cortar definitivamente os laços com Lisboa, sob pena de se transformarem, a curto prazo, num verdadeiro deserto, como, de resto, já um ministro socialista o classificou.
Neste momento, só um boicote em massa às eleições nacionais pelos alentejanos teria capacidade para chamar a atenção da União Europeia para o nosso problema. Só que dificilmente esse boicote poderá ocorrer, porque, neste momento, são muito pouco os alentejanos que sonham com um futuro para os seus filhos e para os seus netos no Alentejo. A maioria das pessoas que aqui vive já tem os seus filhos e os seus netos a viver na Região de Lisboa ou no estrangeiro pelo que já pouco lhes interessa o futuro do Alentejo.
Santana-Maia Leonardo