Opinião | 24-09-2022 06:59

Os caloteiros são mais do que as mães, tal como os órfãos de Isabel II

Os caloteiros são mais do que as mães, tal como os órfãos de Isabel II

Republicano Manuel Serra d’Aire

Republicano Manuel Serra d’Aire

Sugeres na tua última missiva que Azambuja seja consagrada como Capital do Calote, tal é a dimensão das dívidas que os abnegados cidadãos desse concelho têm para com o município, na habitação social, nas refeições escolares e provavelmente noutras minudências. A ideia não é descabida, mas peca por ser discriminatória. É que na região (e não só) há vários outros municípios que sofrem do mesmo mal, onde muita gente não paga habitação social nem refeições escolares apesar das módicas quantias mensais que lhes são pedidas.
Os cidadãos mais moralistas e zelosos acham que é uma pouca-vergonha esse uso e abuso do erário público mas há que ver o outro lado da questão e pormo-nos na pele dos caloteiros. Sempre ouvi dizer que o exemplo deve vir de cima; e nós bem sabemos o rico exemplo que os nossos municípios (e já agora os sucessivos governos) deram ao longo dos anos no que ao cumprimento dos seus compromissos diz respeito, nomeadamente em relação aos seus fornecedores. Aliás, algumas câmaras endividaram-se tanto que ficaram sem dinheiro para mandar cantar um cego por muitos anos. É o caso do Cartaxo, embora julgue ser abusivo depreender que o facto de se auto-denominar, há muitos anos, Capital do Vinho tenha alguma coisa a ver com o assunto…
Passei os últimos dias a tentar escapulir-me o melhor que podia da longa maratona das cerimónias fúnebres da Rainha Isabel II de Inglaterra, pelo que desde já me penitencio se me tiver escapado alguma coisa muito importante da nossa plebeia e regional actualidade. A única forma de fugir a esse bombardeamento de imagens e sons em looping era não ligar a TV e muito menos aceder às redes sociais. Ir ao café ou falar com os vizinhos ou com a sogra eram também comportamentos de alto risco.
O essencial estava visto e ouvido e lido um par de dias depois do falecimento da monarca e de o primogénito Carlos ter assumido o trono do Reino Unido. Mas a fixação que os nossos canais televisivos demonstraram sobre o assunto, enviando carradas de enviados especiais para o Reino Unido dias a fio, para fazer aqueles directos do género que fazem à porta dos estádios antes e depois dos jogos de futebol fez-me lembrar o que faço com as embalagens de pasta dos dentes: foi espremer até deitar a última gotinha. Só faltou colocarem repórteres em motas atrás do carro funerário a acompanhar o cortejo, como fazem com os autocarros dos clubes, tal foi o afã em mostrar serviço. Temo que o sentimento de orfandade que a morte de Isabel II deixa não atinja só família e súbditos mais fervorosos. Nalgumas redacções deste país deve andar gente a chorar baba e ranho e de luto carregado, chorando a desdita de ter que voltar à triste e plebeia realidade lusitana, onde nos resta apenas a Rainha das Vindimas…
Saudações do
Serafim das Neves

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