Opinião | 14-12-2022 18:00

Combater a inflação com a legalização da eutanásia e gerar calor com livros escritos por quem nunca leu um livro

Emails do outro mundo

Temerário Serafim das Neves

Temerário Serafim das Neves
De cada vez que vou às compras fico surpreendido com a capacidade dos supermercados em acompanhar e, por vezes, antecipar a inflação. Confesso que chego a desconfiar que os preços são actualizados durante o tempo que demoro a percorrer um corredor de prateleiras. Problema meu, que devia andar mais ligeiro, em vez de parar tantas vezes de boca aberta a olhar para as placas dos preços.
Outra coisa que me atrasa são as tentativas que faço para ler as placas colocadas rente ao chão ganhando torcicolos homéricos, apesar de saber há muito tempo que só podem ser lidas por contorcionistas ou por quem vá diariamente ao ginásio, o que não é o meu caso. É no rés-do-chão daquelas estantes comerciais que se encontram os produtos mais baratos, mas não é menos verdade que, apesar de tudo...são caros.
Depois de pagar fico sempre um momento por ali, a conferir o talão, parcela a parcela, Iva a Iva, cêntimo a cêntimo, descontinho a descontinho, promoção a promoção, convencidíssimo que houve um engano. E quando chego a casa volto a conferir, na esperança que aconteça um qualquer milagre...e logo eu, que não acredito em milagres.
E confiro também o saldo da conta bancária para saber quantas vezes mais posso voltar ao local do crime, digamos assim, porque continuo a pensar que é um crime, forçarem-me a fazer dieta através da escalada, digamos assim, do preço do peixe, carne, latas de atum, ovos, vegetais e tudo mais.
Também vou lendo notícias para me orientar, mas sem sucesso. No tempo da troika havia políticos que nos aconselhavam a emigrar. Agora, para a inflação não nos doer tanto, os políticos sugerem-nos ver jogos da selecção e acenam-nos com a revisão da Constituição e com a legalização da eutanásia. Quem diz que eles são todos iguais não sabe do que fala.
Concordo contigo quando dizes que o Ministério da Agricultura, que perdeu as florestas para o do Ambiente e as Direcções Regionais para as CCDR, está em extinção e que a ministra Maria do Céu Antunes pode não ter dado por isso. Mas há tanta coisa em extinção que, mais uma menos uma não fará grande diferença. A única curiosidade que tenho é saber quem se extingue primeiro, se o Ministério ou a ministra.
Neste Natal só vou oferecer livros. São caros mas vale a pena. Os que gostam de ler vão ficar radiantes. Os que não gostam de ler também ficam felizes porque, bem vistas as coisas, sempre é melhor um livro, mesmo que nunca venha a ser aberto, do que mais umas cuecas à Tarzan, com abertura frontal.
Quanto aos que odeiam livros - a quem planeio dar exemplares de edições de autores que escreveram grandes calhamaços, sem nunca terem lido um livro ou a simples bula de um medicamento - vão transbordar de genuína alegria quando os queimarem na lareira e descobrirem que a capacidade energética deles é superior à da lenha.
Alguns municípios que integram o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, que há alguns anos deixaram desaparecer os rebanhos de cabras sapadoras, estão agora a querer tomar conta do Parque para promoverem o turismo. Só espero que desta vez contratem melhores pegureiros, não vão os turistas levar também sumiço.
Cumprimentos pastoris
Manuel Serra ‘Aire

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