Quo vadis?
Atravessamos um período da nossa história triste, cinzento, amorfo e estéril, onde a mediocridade se impõe ao mérito, onde um Estado grande, mas fraco, se encontra refém de cumplicidades execráveis, que asseguram sinecuras de bastardos e surrões estipêndios.
Quem somos nós e em quem nos transformámos? Quais os motivos de uma modorra que nos detém, nos inibe e que, infelizmente, também nos compraz, nos acomoda e nos silencia, como se de uma condição de sobrevivência se tratasse? Porém, esta decrépita melancolia e esta desistência colectiva, encarniça até as pedras da calçada.
Temos atributos que, no seu conjunto, são muitas vezes antagónicos. É como se cada uma das nossas características enquanto povo constituísse um contraponto de uma outra de sinal contrário, como se tudo constituísse um sistema de pesos e contrapesos que permite a Portugal flutuar, como se o seu conjunto de quase 900 anos desmentisse liminarmente as contradições peculiares de cada uma. Boiamos, mas não navegamos.
Tive um Professor de História no 8.º ano que dizia alto e bom som, que quem escrevesse, num qualquer teste - na minha altura denominavam-se de “pontos” -, que nós descendíamos daqueles que partiram para as descobertas, tinha um chumbo garantido. Dizia ele, que nós descendíamos sim, não da gente corajosa que tinha partido à aventura, mas sim dos cobardes que cá ficaram...
Consta que somos um povo de brandos costumes. Será? Hoje sim, concordo que neste momento somos um povo de moles, ociosos, viscosos e mansos costumes. Contudo e recuando apenas até ao séc. XIX, tivemos as guerras peninsulares onde, rezam as crónicas, nunca se sofreu tanto num conflito militar, com milhares de mortos entre a população simples; seguindo-se logo uma guerra civil, cuja violência e mortandade ficou nos anais da história Europeia. Enfim, se isto são brandos costumes...
Atravessamos um período da nossa história triste, cinzento, amorfo e estéril, onde a mediocridade se impõe ao mérito, onde um Estado grande, mas fraco, se encontra refém de cumplicidades execráveis, que asseguram sinecuras de bastardos e surrões estipêndios. Vindouros historiadores serão muito pouco muníficos connosco.
Não arriscamos, temos medo da mudança, temos medo do futuro. Encaramos o trabalho como um suplício e ansiamos com uma reforma que nunca mais chega. Sonhamos, não com desígnios, mas com a árvore das patacas - raspadinhas ou euromilhões -, que nos permita viver sem trabalhar. Invejamos o sucesso. Não temos um propósito comum, não fazemos filhos por egoísmo e, assim, estamo-nos nas tintas para o futuro desta lusa pátria. Mas estamos em sossego, dado que nesse futuro já cá não estaremos. E quem estiver que se amanhe.
Vendemo-nos por pouco, porque somos pobres. Vendemos a alma por € 20 no bolso. Ou antes, por € 125,00. Protestamos, mas baixinho, porque, apesar de tudo, vai aparecendo comidinha no prato, não neva, não temos frio a sério, não sofremos intempéries agrestes e gozamos do sol quase todo o ano. Preferimos a segurança da nossa enfarruscada vidinha a arriscarmos em conjunto pelo futuro dos nossos filhos.
Porque ainda têm memória fresca dos tempos da miséria, os mais velhos preferem assegurar com unhas e dentes a certeza do “status quo” do cochado conforto que hoje desfrutam, do que arriscar na incerteza da inovação que forja novos tempos.
Preservamos um sofrível nível de vida que resulta muito mais da pródiga guita que desde há 36 anos pinga de Bruxelas, do que daquilo que produzimos. Daí que estejamos confortáveis com muito pouco, preguiçosos mas pedintes e sempre melancólicos, visto que, lá no fundo, temos vergonha da nossa desistência. A exigência é para nós ainda um absurdo.
Escutámos embevecidos o Dr Costa a clamar por mais exigência na escolha de autarcas e de membros de governo. Eu pediria aos meus concidadãos mais exigência sim, mas para nós e para a escolha de primeiros ministros.
P.N.Pimenta Braz