Opinião | 19-01-2023 07:00

A greve dos professores e o Portugal dos pequeninos

O Estado português deve ser o único do mundo desenvolvido que obriga os professores a deixarem casa e filhos para viver em quartos arrendados e trabalharem em escolas a 300 quilómetros de casa. Só não protesta e não leva esta luta até ao fim quem não se sente nem é filho de boa gente.

As greves dos professores são as mais justas das lutas laborais que se podem travar em Portugal. Espero que os professores levem esta luta até ao fim e não desistam sem conseguir assegurar as principais reivindicações. É desumano colocar um professor com filhos, em idade escolar, a dar aulas a 100, 200 e 300 quilómetros da casa de família. Portugal é um país pequeno, mas os professores têm que viver em quartos que custam metade dos vencimentos; e se quiserem ver os filhos ao fim-de-semana a outra metade do vencimento vai para os transportes. Os políticos portugueses, com a experiência governativa de António Costa, não podem dormir descansados quando têm pessoas a trabalhar para o Estado na condição de cidadãos de segunda; não há classes profissionais em Portugal que sejam tão injustiçadas como os professores. Por isso esta greve que certamente vai ficar na história da luta laboral em Portugal se os professores não aceitarem migalhas e a levarem até ao fim.


Apesar da Europa estar em guerra, e o mundo depender dos azeites dos líderes da Coreia do Norte, da China, da Rússia e dos EUA, só tenho olhos para o que se passa em África e nos países árabes; é vergonhoso para os políticos das últimas gerações o legado que estamos a querer deixar aos nossos filhos e netos.
Parece que o exemplo único de Nelson Mandela foi um fogo-de-artificio; o exemplo único de José Alberto Mujica Cordano, conhecido popularmente como Pepe Mujica, só chegou ao conhecimento dos homens que viajam no espaço quando são dois casos extremos daquilo que os homens são capazes para mudar o mundo. Mujica foi Presidente da República do Uruguai mas não se agarrou ao poder nem deixou a sua casa humilde e a sua vida de homem remediado; Nelson Mandela pagou com boa parte da vida na prisão numa luta sem igual pelo fim da guerra e da segregação racial, mas a sua história não serve de lição à grande maioria dos líderes africanos que, regra geral, são corruptos e ditadores.


Viajei este último fim-de-semana por Amesterdão onde não ia há alguns anos e o que encontrei surpreendeu-me: em meados de Janeiro, quando o turismo devia ser de época baixa, não era possível visitar os principais museus da cidade porque as entradas estavam esgotadas por vários dias. Os preços dos produtos essenciais são cada vez mais caros em relação aos países pobres como Portugal. Não preciso de frequentar os bares ou os bairros de Amesterdão para me sentir feliz, mas tomo boa nota do facto da Europa estar cada vez mais dividida entre países ricos e pobres, sociedades cada vez mais bem organizadas ao lado de outras que parecem reféns de um capitalismo selvagem praticado pelos grandes grupos económicos que controlam a distribuição. Tudo isto nas barbas dos socialistas e social-democratas portugueses que há meio século governam o país, mas não passam da cepa torta, na reforma do ensino da saúde, no apoio às autoridades reguladoras que, em muitos casos, parecem associações de caridade de apoio aos empresários Donos Disto Tudo. JAE.

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