O crime não compensa no país do “no boys for the jobs”
Eufemístico Manuel Serra d’Aire
Eufemístico Manuel Serra d’Aire
O ex-presidente da Câmara do Cartaxo, Pedro Magalhães Ribeiro, demitiu-se de assessor do primeiro-ministro por causa de uma publicação na página do Facebook da Câmara do Cartaxo quando ainda liderava o município, no Verão de 2021. Estava-se em época de pré-campanha para as autárquicas. O tribunal considerou que o então autarca viciou as regras do jogo eleitoral ao permitir que se difundisse uma mensagem nos meios oficiais da câmara onde se anunciava um novo centro de saúde para a cidade. Por isso foi condenado a pagar uma multa de 3.600 euros e numa pena acessória de 2 anos e 9 meses sem poder exercer cargos públicos.
A condenação agora conhecida, mais de um ano após as eleições autárquicas de Setembro de 2021, parece-me não só tardia como, sobretudo, injusta. É que o ‘crime’, mais uma vez, não compensou e o condenado até conseguiu a façanha de perder as eleições e o reinado que o PS detinha na Câmara do Cartaxo desde o 25 de Abril. Além disso, o tal centro de saúde que a então ministra da Saúde Marta Temido teria prometido a Pedro Magalhães Ribeiro continua a não existir. Ou seja, nem o autarca e candidato venceu as eleições nem a promessa da ministra, que também já saiu, foi cumprida. Pelos vistos, a influência das redes sociais nas eleições do Cartaxo foi inócua; e quanto à credibilidade das mensagens que envolvem promessas de ministros nem vale a pena falar…
Resta saber se Pedro Ribeiro vai levar mais um louvor público do primeiro-ministro, como o que recebeu no fim de Março de 2022 - pelo exercício das funções de assessor do Gabinete do Primeiro-Ministro do XXII Governo Constitucional, que então cessava -, um par de meses antes de voltar para assessor de António Costa no novo Governo. Por mim merecia o louvor, nem que fosse por ter saído pelo próprio pé. Porque arredar governantes ou assessores do poleiro é mais difícil do que descolar lapas das rochas.
Este episódio com Pedro Magalhães Ribeiro levou-me a outra reflexão: já reparaste que os presidentes da Câmara do Cartaxo têm uma exuberante propensão para arranjarem problemas com a justiça? Que me recorde, dos últimos (Conde Rodrigues, Paulo Caldas, Paulo Varanda e Pedro Ribeiro) não escapou nenhum, o que não significa que tenham sido todos condenados. Mas que tiveram de sentar o cu no mocho, lá isso tiveram. E eu bem sei o que custa ter de encarar um juiz com ar severo, nem que seja para nos dizer que estamos absolvidos ou nem devíamos ter sido julgados.
A coisa está preta para os políticos/governantes que estão a cair que nem tordos devido a casos mais ou menos escandalosos. Em 1995, quando tomou posse como primeiro-ministro, o socialista António Guterres proclamava solenemente “no jobs for the boys”, ou seja, que não iria haver tachos para a rapaziada à conta do cartãozinho partidário. Quanto à concretização dessa intenção estamos mais do que conversados, mas actualmente a questão coloca-se ao contrário: com a dificuldade em encontrar gente sem rabos-de-palha para o Governo seria mais apropriado dizer que não há boys for the jobs.
Um bacalhau congelado do
Serafim das Neves