Dimensão estratégica
Lisboa está numa encruzilhada. Por falta de estratégia, deixou-se prender. Como cidade, deixou-se cercar por um conjunto de municípios que não lhe permite qualquer crescimento. Com uma população com cerca de 504.000 habitantes, tem já seis cidades espanholas com população superior: Madrid, Barcelona, Valência, Sevilha, Saragoça e Málaga( : ) Em Santarém celebram-se com “Hurras” as novas separações de Freguesias outrora agregadas. Mais um erro colossal que resulta da falta de coragem política para falar verdade às populações.
Um artigo em Dezembro do “Financial Times” - https://www.ft.com/content/24dbcc0f-7974-48d7-9824-ab86b58a3a29 -, sublinhava que, mais do que as nações, para o desenvolvimento económico é fundamental o papel das áreas urbanas. Os anglo saxónicos até utilizam a expressão “to levelling up”. Demonstra-se que as grandes cidades impulsionam metade do crescimento económico global. Entre muitos outros factores, os benefícios económicos resultam da maior especialização e aglomeração de pessoas. No fundo, a existência de massa crítica e de capacitação técnica que permite a diversificação de investimentos. Por outro lado, permite também a concentração de empresas com características, interesses ou actividades semelhantes – “clusters” – que aumentam a eficiência das trocas comerciais.
Por exemplo, cerca de 700 milhões de pessoas de países mais pobres vivem em regiões de alto crescimento económico: São Paulo no Brasil, Lagos e Ibadan na Nigéria, Bucareste na Roménia – a Roménia, ai, ai…- e Bogor na Indonésia. Até dá o exemplo curioso do Porto e da cidade de Mapusa, na Índia, que apresentaram um PIB per capita semelhante em 2019, apesar de Portugal ser mais de cinco vezes mais rico que a Índia. Ena…
No entanto, não se defendem crescimentos descontrolados, os quais se traduzem na marginalização de milhões de cidadãos, vencidos pela velocidade das transformações laborais e por uma competição económica muitas vezes desregulada que não se comove com o sofrimento Humano.
Bom, mas para mitigar as desigualdades sociais – que sempre existirão – as democracias têm instrumentos de participação que mais nenhum outro sistema político possui.
Tudo isto para dizer que Lisboa está numa encruzilhada. Por falta de estratégia, deixou-se prender. Como cidade, deixou-se cercar por um conjunto de municípios que não lhe permite qualquer crescimento. Com uma população com cerca de 504.000 habitantes, tem já seis cidades espanholas com população superior: Madrid, Barcelona, Valência, Sevilha, Saragoça e Málaga.
Curiosamente, para crescer, apenas o poderá fazer na área que hoje é ocupada pelo aeroporto Humberto Delgado… Ou consegue uma articulação integrada, extraordinariamente competente, com os municípios da sua área metropolitana, ou será inapelavelmente ultrapassada por outros centro e regiões espanholas.
Ao nosso nível micro, em Santarém celebram-se com “Hurras” as novas separações de Freguesias outrora agregadas. Mais um erro colossal que resulta da falta de coragem política para falar verdade às populações. Nano- freguesias ou micro-municípios, apenas são bons para satisfação de “egos de campanário” e para distribuição de lugares políticos a muitos desempregados da vida. Ou seja, pretendem-se votos fáceis à custa da demagogia de cordel.
Perde-se capacitação crítica, dimensão estratégica, planeamento eficaz e optimização de custos. E, claro, fogem investimentos e…pessoas.
Em Santarém, existem algumas placas toponímicas com o nome da cidade - que é suposto indicarem o seu início – cuja localização já é inadequada. Por exemplo, antes do bairro de Vale de Estacas existe uma dessas placas, quando a cidade, hoje em dia, se inicia bem antes, quase à saída da rotunda da fábrica de cervejas Font Salem. Também a rua “O” apresenta várias indicações com a palavra “Santarém”, quando essa mesma rua atravessa já a própria cidade. Indica-nos o percurso para Santarém, quando já estamos em plena urbe.
Detalhes que importará avaliar e corrigir, a bem do espreguiçar da própria cidade.
P.N.Pimenta Braz