As matrafonas que se ponham a pau no reino da sensibilização, porque a polícia do politicamente correcto anda aí
Inspirador Manuel Serra d’Aire
Inspirador Manuel Serra d’Aire
Há uma boa meia dúzia de anos, a Câmara de Benavente criou um regulamento que previa a aplicação de coimas aos donos de animais de estimação que não apanhassem os dejectos dos seus cãezinhos da via pública. Falava-se em multas na ordem das centenas de euros e eu pensei que finalmente alguém tinha a ousadia de pôr na linha (indo-lhes ao bolso, que é o que mais dói) os prevaricadores que ajudam a estrumar os nossos passeios e jardins.
Ingenuidade minha, obviamente, porque meia dúzia de anos passados nem uma multa foi aplicada pela Câmara de Benavente (e aposto que por nenhuma outra autarquia desta região ou até mesmo do país). Os cães continuam a defecar à vara larga como se não houvesse amanhã e alguns cidadãos queixam-se da bosta que se cola aos sapatos. A autarquia já na altura ressalvava que, primeiro, era preciso sensibilizar a comunidade e só depois partir para a violência contra os infractores. Curiosamente, agora, diz precisamente a mesma coisa.
Se há coisa que as nossas autoridades gostam é de sensibilização. Só que, infelizmente, muitos portugueses são uns mal-agradecidos e não correspondem ao esforço e recusam-se a ser devidamente sensibilizados sobre as mais diversas matérias. Só assim se explica que meia dúzia de anos não tenham chegado para sensibilizar devidamente os benaventenses sobre os cocós caninos e que a situação continue igual ou pior. É matéria que custa a interiorizar, admito. Tal como a da separação do lixo, por exemplo; ou a de não despejar entulhos no meio dos pinhais; ou a de não conduzir com uma dúzia de cervejas no bucho. As nossas autarquias e outras entidades bem se esfalfam e gastam dinheiro em luzidias campanhas de sensibilização, mas sensibilizar-nos é uma missão quase tão impossível como encontrar uma agulha num palheiro ou um ministro das Finanças que baixe os impostos.
No Carnaval de Santarém o politicamente correcto entrou em campo quando uma encarregada de educação de uma escola primária se insurgiu por a rapaziada ir mascarada de nativos africanos. Aqui d’el-rei que isso era uma expressão de neocolonialismo salpicada de racismo, xenofobia, um mau exemplo para os putos e sei lá que mais... Enfim, tal foi o estrilho que a malta lá teve de mudar de farpela e em vez de pretinhos foram mascarados de havaianos, que como não são tão escuros lá passaram pelo crivo das mentes mais sensíveis.
Por este andar, um dia destes as matrafonas são banidas do Carnaval, acusadas de misoginia e de ultrajarem e vilipendiarem o género feminino. Homens de barba rija andarem de minissaia e perna ao léu representam um atentado à moral e bons costumes, são potencialmente instigadores de comportamentos debochados e péssimas inspirações para as nossas criancinhas. Aliás, é precisamente por isso que eu prefiro as sambistas do Carnaval do Rio…
Aceita um salamaleque do
Serafim das Neves