O mundial de futebol
simples candidatura à organização de um mundial de futebol, constitui uma ofensa ao actual estado de subdesenvolvimento de Portugal, devendo corar de vergonha quem ousasse sequer pensar em semelhante empreendimento. Portugal foi recentemente ao mercado e pagou 3% de juros num empréstimo! Querem que explique?!
Num país confrontado com problemas gravíssimos de pobreza, de má gestão da “res pública” e, como tal, de inexistência de dinheiros públicos significativos para problemas agudos que afectam a população mais carenciada, temos um governo esquizofrénico que teve a insolência de apoiar uma candidatura portuguesa ao mundial de futebol de 2030, mesmo que conjunta com Marrocos e Espanha.
Em silêncio – quem cala consente -, toda a sociedade lusitana assiste, uma vez mais, impávida e serena, a mais um desmando gravíssimo que explica a nossa pobreza.
Amanhã e caso a candidatura seja vencedora, os mesmos senhores jornalistas, políticos e “influencers” que agora estão mudos ou que apoiam esta estupidez, serão os mesmo que, com fajutas faces graves de gente séria e competente, criticarão falazmente os gastos excessivos de milhões e milhões de euros, a dívida pública que, em termos absolutos, teima em não descer, os estádios abandonados e os inevitáveis fenómenos de corrupção que brotarão como cogumelos.
Tudo gente séria, claro, expectante e usufrutuária de distintos repastos em luxuriantes estabelecimentos alfacinhas, com mais ou menos estrelinhas à entrada.
E depois prosseguirão os queixumes habituais de que não há dinheiro para reparar sanitários, fotocopiadoras e aparelhos de ar condicionado em repartições públicas, para contratar médicos e farmacêuticos para o obsoleto e decrépito SNS, para a construção de uma rede de unidades de cuidados continuados por todo o território nacional, ou para a manutenção das embarcações da Armada ou dos carros de combate “leopard”.
O governo persiste em folguedos grandiloquentes para esbanjar o dinheiro que não existe, endividando-nos sempre e cada vez mais, em ordem a iludir o povo e a esconder e fazer esquecer as gritantes incompetências de quem manda.
Somos pobres, insistimos em ser cinzentos e pequeninos, mas queremos ser como os crescidos e, sem trabalhar muito, colocarmo-nos em biquinhos dos pés, intentar grandes cometimentos e cobrirmo-nos de uma vã glória, propiciadora, aqui e ali, de uns ansiosos lugarzitos em organizações internacionais.
Uma tristeza e uma vergonha!
A simples candidatura à organização de um mundial de futebol, constitui uma ofensa ao actual estado de subdesenvolvimento de Portugal, devendo corar de vergonha quem ousasse sequer pensar em semelhante empreendimento. Portugal foi recentemente ao mercado e pagou 3% de juros num empréstimo! Querem que explique?! Perante estas nuvens que se adensam no horizonte, a palavra ignomínia não consegue minimamente ilustrar o apoio do governo a mundiais da bola.
Portugal, afinal, parece que tem dinheiro mais do que suficiente para, nos anos que vão desde 2024 a 2030, organizar um mundial de futebol – que os seus defensores vão argumentar que sairá quase de borla…-, construir uma fantástica rede de comboios de alta velocidade por todo o país e, além disso, construir um enorme aeroporto! Como temos andado enganados!
Temos dinheiro – e muito! -, mas não sabíamos! Isso é que vai ser um regabofe de jorrar milhões de empréstimos de euros públicos às sempre carentes grandes empresas de construção! Aliás, alguém um dia vai ter de me explicar porque motivo essa suposta linha de alta velocidade que consta do absurdo Plano Ferroviário Nacional, insiste em ser construída em via única com bitola ibérica (1668 mm) e não em bitola padrão (1435 mm)…
Eu desconfio sempre de actos de grande burrice por parte de gente espertalhona.
P.N.Pimenta Braz