Só árbitros estrangeiros não basta
O que é um clube de futebol? A melhor definição é a de Bobby Robson: “ É o barulho, a paixão, o sentimento de pertença, o orgulho na tua cidade.”. Ora, à excepção do Benfica, do Sporting, do Porto, do Guimarães e, muito recentemente, do Braga, a todos os outros clubes falta-lhes o mais importante: os adeptos. E se não têm adeptos para encher o seu estádio, não são verdadeiros clubes pelo que não deviam poder participar na liga.
O Benfica, com o aplauso de Rui Santos, quer um árbitro estrangeiro para arbitrar o seu jogo com o FC Porto. E tem razão. Não está aqui em causa a qualidade dos árbitros, mas a inexistência de condições objectivas para poderem exercer as suas funções com independência e imparcialidade. E não é muito difícil perceber porquê.
Se eu tiver um litígio com o meu vizinho, a condição essencial para um juiz poder dirimir o conflito entre nós com isenção e imparcialidade é nem ser da minha família, nem da do meu vizinho, nem viver na minha casa, nem na casa do meu vizinho. A competência vem a seguir.
Acontece que, em Portugal, não há nenhum árbitro que reúna estas condições mínimas para poder arbitrar um jogo do Benfica, Sporting e Porto. Mesmo que, por hipótese, exista um árbitro que não seja adepto, nem simpatizante de nenhum destes clubes (o que será extremamente difícil), a verdade é que, em qualquer cidade portuguesa em que resida, vive rodeado por fanáticos destes três clubes: em casa, no café e no trabalho.
E, sendo assim, forçoso será concluir que Portugal não reúne condições que garantam a imparcialidade e isenção dos seus árbitros em provas em que entre qualquer um destes clubes. Um árbitro estrangeiro pode até ter menos qualidade do que um árbitro português, mas, quando regressar à sua casa e ao seu país, não vai certamente viver rodeado de fanáticos do Benfica, Sporting e Porto.
No entanto, não nos iludamos. O problema da liga portuguesa não se esgota na arbitragem. Com efeito, não basta que estejam reunidas as condições de isenção e imparcialidade dos árbitros para que a integridade da competição esteja salvaguardada. Para que exista competição, é necessário, em primeiro lugar, que existam clubes diferentes que compitam entre si. E o que é um clube de futebol? A melhor definição é a de Bobby Robson: “É o barulho, a paixão, o sentimento de pertença, o orgulho na tua cidade.”.
Ora, à excepção do Benfica, do Sporting, do Porto, do Guimarães e, muito recentemente, do Braga, a todos os outros clubes falta-lhes o mais importante: os adeptos. O Benfica, inclusive, gaba-se de jogar todos os jogos em casa, o que significa que joga contra clubes que não têm adeptos para encher o seu próprio campo. E se não têm adeptos para encher o seu estádio, não são verdadeiros clubes pelo que não deviam poder participar na liga. Os estádios dos chamados clubes pequenos não estão às moscas por causa do preço dos bilhetes, nem da hora do jogos. Tanto assim é que se enchem quando os bilhetes são mais caros.
Mas o problema da integridade da liga portuguesa não termina aqui. Com o boicote da centralização dos direitos televisivos por parte de Benfica, Sporting e Porto, os clubes pequenos ficaram sem adeptos e sem dinheiro. E clubes sem adeptos e sem dinheiro só conseguem sobreviver vivendo amancebados com um clube rico que lhes vá pagando as contas ou vendendo uns jogos ao melhor preço, como as putas da beira da estrada. E com os jogadores passa-se o mesmo. Pessoas com salários em atraso e com família para sustentar e renda de casa para pagar são extremamente vulneráveis a determinadas ofertas. E Benfica, Sporting e Porto reduziram à indigência os outros clubes precisamente para os poderem mais facilmente corromper.
Concluindo: não basta apenas árbitros estrangeiros para que a verdade desportiva na liga portuguesa fique salvaguardada. É necessário também clubes estrangeiros para que exista uma verdadeira competição.
Santana-Maia Leonardo