Opinião | 24-03-2023 07:00

Em Estado de Podridão Operacional

Hoje nem os tribunais são já dignos de confiança. Bem-aventurados os pobres de espírito que desconhecem como se fabricam as leis, como são avaliados os magistrados, como se acede às profissões jurídicas, como se constroem os labirintos jurídicos que permitem a salvação dos malfeitores topo de gama e a condenação do cidadão comum, muitas vezes sem prova e outras vezes sem o conhecimento sequer da ilicitude, com o único intuito de lhes sacar o pouco dinheiro que lhes sobeja do saque fiscal.

Um amigo meu costuma dizer que Portugal não é um país, mas um lugar mal frequentado onde se fala português e mal. E, em boa verdade, todas as instituições portuguesas apodreceram, em virtude de terem permitido que o acesso e a ascensão nas carreiras que as sustentam assentasse na cunha, no compadrio e no amiguismo, em vez da competência, do conhecimento e do mérito. E uma sociedade que sacrifica os melhores não tem futuro.

Hoje vivemos, para usar um termo militar, em Estado de Podridão Operacional. Recursos humanos, organização, instalações, equipamentos e, inclusive, o próprio tecido social… Tudo fede. Para já não falar no Governo da Nação e no futebol português.

Sendo certo que é muito difícil respeitar as hierarquias, quando se tem conhecimento como se sobe nas carreiras e se ganham os concursos públicos. Ao contrário do que pensam, por exemplo, os professores, o respeito não se decreta por lei. O respeito ganha-se pelo exemplo, pela competência e pelo mérito.

Hoje nem os tribunais são já dignos de confiança. Bem-aventurados os pobres de espírito que desconhecem como se fabricam as leis, como são avaliados os magistrados, como se acede às profissões jurídicas, como se constroem os labirintos jurídicos que permitem a salvação dos malfeitores topo de gama e a condenação do cidadão comum, muitas vezes sem prova e outras vezes sem o conhecimento sequer da ilicitude, com o único intuito de lhes sacar o pouco dinheiro que lhes sobeja do saque fiscal.

Quanto à Igreja Católica, estamos conversados. Até tu, Brutus!... E a Jornada Mundial da Juventude veio mesmo a calhar para demonstrar como o Estado Português e a Igreja Católica são almas gémeas: “ uma coisa é dizer sermões, outra coisa é vender trigo .”


Ninguém respeita ninguém, porque ninguém é respeitável. Ninguém peça a um batoteiro para confiar na honestidade dos seus adversários. Quem não é honesto desconfia da sua própria sombra. Quem conseguiu o seu lugar pela cunha e pela troca de favores nunca vai acreditar que os outros conseguiram o seu lugar por mérito.

Só já faltava mesmo os militares recusarem-se a participar numa missão por medo de morrer. Mas, pelos vistos, já chegámos a esse ponto. A recusa dos marinheiros de embarcar no navio-patrulha Mondego para cumprir uma missão, invocando falta de condições de segurança, é absolutamente surreal.

E, quando a podridão é o estado da Nação, tudo se discute e tudo se põe em causa. Ninguém respeita ninguém, porque ninguém é respeitável. Ninguém peça a um batoteiro para confiar na honestidade dos seus adversários. Quem não é honesto desconfia da sua própria sombra. Quem conseguiu o seu lugar pela cunha e pela troca de favores nunca vai acreditar que os outros conseguiram o seu lugar por mérito.

E a democracia, sendo o melhor dos regimes, acaba, no entanto, por reflectir os méritos e os vícios do colégio eleitoral. Os eleitos são sempre o espelho fiel de quem os elege. Gente honesta, competente e trabalhadora elege gente honesta, competente e trabalhadora. Vigaristas, parasitas, medíocres e incompetentes elegem gente igual a eles.

Chegámos a um ponto sem retorno. Neste momento, já nenhuma instituição portuguesa é reformável. Todas vão cair de podre.

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