Os deputados excursionistas, a réplica engarrafada e os anunciantes que nos governam
Inabalável Manuel Serra d‘Aire
Inabalável Manuel Serra d‘Aire
O grupo parlamentar do Partido Socialista escolheu o distrito de Santarém para realizar as suas Jornadas Parlamentares e tomar contacto com os anseios e problemas desta região. Fica-lhes bem esses sentimentos, mas acho que escusavam de ter vindo gastar gasóleo, gasolina ou bateria de carros eléctricos. Bastava telefonarem a dois ou três dos seus autarcas ribatejanos - e o PS tem por cá muitos – para ficarem a par do rol de promessas por cumprir; ou consultarem os arquivos de jornais como O MIRANTE; ou até perguntarem aos seus deputados eleitos pela região, que também devem estar a par (acho eu...). Só por aí ficavam com um cardápio que dava que fazer a um ou dois governos.
Infelizmente, estas visitas mediáticas são puro teatro para eleitor ver. Entretenimento político para deputados desanuviarem das canseiras do Parlamento e dos corredores dos Passos Perdidos, pois bem precisam, coitados… Faz-me lembrar o aparato mediático quando, há meia dúzia de anos, o actual primeiro-ministro, à frente de uma lustrosa comitiva - onde, provavelmente, já pontificavam alguns dos deputados que por cá andaram agora - veio ao Entroncamento anunciar milhões para requalificar os acessos a zonas industriais no Entroncamento, Riachos e Rio Maior, para além de outras no país. Eram milhões acamados ao abrigo de um programa qualquer. Entretanto, obras nem vê-las! E, agora, as mesmas obras estão novamente anunciadas mas já no âmbito do famoso Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) com que ninguém sonhava nesses idos de Fevereiro de 2017 pois o mesmo não existia.
Ou seja, as obras não existem, mas não é por falta de anúncios e de propaganda. Falta só esse pequeno detalhe, o da concretização, o de executar, para sermos o país perfeito. Porque a anunciar não há quem nos bata. E não estou a falar de estradas transamazónicas, de auto-estradas ou sequer do famigerado IC3 entre Almeirim e Vila Nova da Barquinha, prometido há mais de duas décadas. Não! Trata-se apenas de modestas acessibilidades a zonas industriais da chamada província. E mesmo assim não as conseguimos construir em seis anos. É obra! A única explicação que me ocorre para esta procrastinação é que se o Governo desata a concretizar depois fica sem obras para anunciar. E se há coisa em que este primeiro-ministro e este Governo são exímios é a anunciar… Aliás, não devíamos chamar-lhes governantes mas sim anunciantes.
Não sei se os deputados chegaram a Tomar por auto-estrada ou se foram pela EN 118 e atravessaram a ponte da Chamusca. Duvido que o tenham feito pois consta que chegaram a horas. A ponte da Chamusca é um dos problemas de que os nossos deputados, nomeadamente os dos partidos do chamado arco do poder, deviam ter vergonha de falar. O acanhado tabuleiro, que não permite o cruzamento de dois veículos pesados, é uma dor de cabeça para os automobilistas, constituindo uma réplica ribatejana da lisboeta e almadense Ponte 25 de Abril no que toca aos engarrafamentos, embora seja quase sempre ignorada nos apontamentos de trânsito transmitidos pelas nossas rádios nacionais. Até nisso somos discriminados...
Aceita um abraço desta máquina de pagar impostos chamada
Serafim das Neves