Opinião | 05-05-2023 13:11

O punhal florentino

Neste mini rectângulo à beira mar plantado, neste “Portugal dos pequeninos”, o povo português esqueceu-se que a Terra continuar a girar e que se nasce para morrer. Existem coisas muito mais importantes que a dança do punhal florentino.

Era uma vez um enrugado país, cuja população encolhia. Todavia, o seu povo, embora remediado e pobre, pensava que era rico. Quando não deprimido, nalguns momentos arrotava mesmo manias de grandeza.

Não gostava de grandes labutas. Em tempo idos, cada vez mais longínquos, tinha andado numas embarcações a vaguear por terras distantes, dado que, já nesses tempos, os alimentos que existiam não chegavam para todos.

Produzia pouco, mas entretinha-se a fazer comércio. Eram merceeiros natos e, com isso, alguns faziam fortuna. A coisa mantinha-se, com os enormes supermercados que inundavam o seu quotidiano.

Hodiernamente, sempre de mão estendida, tentava imitar hábitos de povos abastados, que invejava profundamente. Daí tão servil para quem o visitava.

Os seus governantes, medíocres, tinham medo do país. Porque não sabiam fazer mais nada, sonhavam ser ministros ou directores de empresas públicas, atalhos únicos com proventos bastantes para expedições a Londres, ou para caramelos em Badajoz. Por isso, tudo faziam - e o seu contrário - para se manterem nos seus lugares.

Governar não sabiam, já governar-se, saberiam. O povo, esse, taciturno e indolente, satisfazia-se com uns fins de semana no Algarve, ou no centro comercial mais próximo.

O seu Presidente, prazenteiro, abominava o confronto, o silêncio e a solidão. De verborreia incontinente, não governava, mas adorava história florentina e ser namorado pelo povo.

O Primeiro Ministro também não governava. Não podia. Caso contrário, não seria Primeiro Ministro: o povo odiava mudanças. Sonso, distribuía bolos aos tolos e prebendas por apaniguados que o queriam no poder, requisito para caramelos em Badajoz. Infelizes, desconheciam mundo e pensavam o império do meio junto dos Jerónimos.

Presidente e Primeiro Ministro, maquiavélicos, exercitavam punhais florentinos. Distraíam-se com jogos e, divertidos, tentavam, à vez, cravar o punhal nas costas do parceiro. A custo, em conjunto, suportavam o eflúvio do povinho. Um queria ir para Santa Engrácia e o outro para Bruxelas. Desgraçadamente, não iriam para lado nenhum. Embevecido, o povo, esse, cada vez mais pobre, mimetizava-os, esbanjando horas a assistir, venerando-os a eles e ao futebol.

Nada funcionava nesse país sorumbático. Os serviços secretos, desesperados e ociosos por tanta inação num país apagado, entretinham-se a recolher computadores de adjuntos de ministros e de cidadãos velocípedes. Era uma mania como tantas outras. Só não conseguiam recuperar pareceres sobre companhias de aviação. Também seria pedir demais, constituindo isso penosa missão para Navy Seals ou Comandos da Amadora.

A tropa já era fandanga e as embarcações de marujos apenas flutuavam. Os hospitais não tinham médicos e as escolas não tinham professores. Aqueles porque não lhes pagavam e estes porque não gostavam.

O povo, enfeitiçado com as guerras de alecrim e manjerona dos seus governantes - onde o que era importante não interessava e o que interessava não era importante -, desconhecia que o resto do mundo o ignorava.

Sim, o resto do Mundo está-se nas tintas para o SIS, para as mentiras do Dr. Costa, para os cálculos do Prof. Marcelo, para a incapaz Ministra da Justiça e, vejam lá bem, está-se nas tintas para Portugal.

Neste mini rectângulo à beira mar plantado, neste “Portugal dos pequeninos”, o povo português esqueceu-se que a Terra continuar a girar e que se nasce para morrer. Existem coisas muito mais importantes que a dança do punhal florentino.

P.N.Pimenta Braz

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