A falta de médicos é como as ilhotas do Tejo e já não há bruxas ou curandeiros que nos valham
Expedito Manuel Serra d’Aire
Expedito Manuel Serra d’Aire
Há dias vi uma reportagem na televisão sobre o problema da falta de médicos de família num centro de saúde de Lisboa, onde os utentes tinham que ir para a porta de madrugada para tentar arranjar consulta. Era ainda noite cerrada e já havia gente na fila, à espera de um milagre dos tempos de hoje: arranjar um senhor ou uma senhora com uma bata branca e um estetoscópio que nos dê 15 minutos da sua atenção de vez em quando. Falo deste caso para desmistificar a ideia de que essa coisa da falta de médicos de família é uma praga que só prolifera no interior do país ou nas periferias. Não! Em plena capital também faltam médicos, o que denota que afinal não há grandes assimetrias neste campo e o país anda todo à mesma velocidade: neste caso, devagar ou devagarinho, para não dizer parado…
A falta de médicos de família já criou inclusive uma espécie de novo ecossistema onde convivem pacientes queixosos, comissões de utentes, manifestantes semi-profissionais, sindicalistas vários, autarcas e partidos políticos. O cenário tornou-se parte da nossa paisagem e criou raízes, tal como as ilhotas que se vão consolidando no meio do Tejo devido à escassez e fraqueza da água - já nos habituámos a elas e, provavelmente, as raízes são tão fortes que já não há cheia que as elimine.
O mesmo acontece com a falta de médicos. Estou convencido que mesmo que despejem C-130 carregados de médicos de outras paragens nos nossos centros de saúde, continuaremos a bradar contra a sua falta. Provavelmente, foi este flagelo secular que inspirou, ao longo dos tempos, alguns cidadãos mais empreendedores a afoitarem-se no tratamento de toda a sorte de males sem nunca terem passado pela universidade nem terem tirado qualquer especialidade. Havia uma legião de endireitas, bruxas, curandeiros e outros peritos que garantiam uma retaguarda robusta na resposta a todo o tipo de achaques e mitigavam a tradicional falta de médicos e de prescrição de medicamentos. Hoje, nem há médicos nem temos bruxas...
Finalizo com um reparo ao teu último escrito, para dizer que, no que toca aos cus ao léu exibidos na sessão comemorativa do 50º aniversário do PS, não houve qualquer ultrapassagem ao sistema de quotas entre géneros. Aliás, ele foi bem respeitado: havia dois rabinhos de um género, o feminino, e um traseiro de outro género, o masculino. Ultrapassagem teria havido se só tivessem sido descerradas bundas de apenas um género. O facto de haver mais nádegas femininas do que masculinas não invalida o estrito cumprimento das quotas, com nenhum género a ter menos de um terço de representação, como consagra a lei. E ainda bem que foram cumpridas as quotas, facto que, aliás, como vimos na TV, até mereceu fortes aplausos de um entusiasmado militante socialista, que com certeza não estaria a bater palmas ao acto de contestação ao Governo do seu partido mas sim às abençoadas quotas de que o PS tem sido acérrimo defensor. Ou, então, o eufórico militante julgou tratar-se de um momento de strip-tease surpresa para animar a festa porque com este PS nunca se sabe o que mais poderá acontecer…
Votos de boa saúde do
Serafim das Neves