Opinião | 12-05-2023 08:58

Putas e vinho verde

A Holanda tem o tamanho do Alentejo e mais de 17 milhões de habitantes ( : ) Se tivesse sido governada por Salazar, Marcelo Caetano, Mário Soares, Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso, Sócrates, Passos Coelho e António Costa, é óbvio que hoje também pertenceria ao grupo da mão estendida ( : ) e em vez de ter todo o território ocupado por 18 cidades médias que oferecem aos seus cidadãos trabalho qualificado, serviços de saúde e de ensino de qualidade, uma rede de transportes públicos excelente, veria o país ficar reduzido a Amesterdão onde as pessoas se amontavam à procura de trabalho e de casa.

Todos estamos recordados da indignação nacional pelo facto de o presidente do Eurogrupo e ex-ministro das Finanças holandês Jeroen Dijsselbloem ter dito o óbvio: “os países do Sul da Europa gastam o que têm e não têm em putas e vinho verde e depois vão de mão estendida pedir ajuda a quem faz do rigor e da austeridade o seu modo de vida”. Infelizmente, o caso português ainda é mais grave do que o dos países do Sul da Europa, uma vez que, se o nosso Governo gastasse o dinheiro em putas e vinho verde, sempre gerava alguma riqueza na economia nacional.

Mas já que falámos no ex-ministro das Finanças holandês, imaginemos agora que a Holanda, uma das economias mais poderosas da UE e uma das dez maiores nações exportadoras, era governada por portugueses.

A Holanda, recordo, tem o tamanho do Alentejo e mais de 17 milhões de habitantes. Ou seja, tem menos de metade do território português e quase o dobro da população. E, se contarmos apenas a população activa, tem mais do dobro.

Se a Holanda tivesse sido governada por Salazar, Marcelo Caetano, Mário Soares, Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso, Sócrates, Passos Coelho e António Costa, é óbvio que hoje também pertenceria ao grupo da mão estendida e é muito fácil de perceber porquê. Para os portugueses e para os seus governantes, um país pequeno como a Holanda não tem interior pelo que concentrariam em Amesterdão todos os ministérios, secretarias de Estado, direcções-gerais, grandes hospitais, assim como a sede dos Supremos Tribunais, dos bancos, da comunicação social, de todos os ramos das Forças Armadas e todas as instituições.

Consequentemente, a Holanda, em vez de ter todo o território ocupado por 18 cidades médias que oferecem aos seus cidadãos trabalho qualificado, serviços de saúde e de ensino de qualidade, uma rede de transportes públicos excelente, veria o país ficar reduzido a Amesterdão onde as pessoas se amontavam à procura de trabalho e de casa, sendo obrigadas a emigrar para sobreviver, enquanto o resto do território ficava ao abandono, desabitado e desertificado.

Os holandeses bem podem dar graças a Deus por não serem, nem terem sido governados por portugueses. Cada um é para o que nasce. Já Camões, no final de “Os Lusíadas”, reconhecia, com mágoa, que “são pera mandados,/ Mais que pera mandar, os Portugueses”. Quem quiser conhecer o povo português leia a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto. Quando estão na mó de cima, são de uma arrogância insuportável, de uma ganância desmedida e esbanjam dinheiro como se não houvesse amanhã. Quando estão na mó de baixo, choram baba e ranho, vitimizam-se, prostituem-se, sem um mínimo de dignidade e sem um pingo de vergonha.

Santana-Maia Leonardo


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