Roubar em tempo de pobreza sem ser confundido com os gatunos
Quando os pobres mais precisam de ajuda é quando certos organismos dos governos compram mais fardas e contratam mais gente para as vestir de forma a poderem roubar sem serem confundidos com os gatunos.
“Entre o pecado e o limiar/da pureza passa um fio/de espada, invisível, para/melhor ser visto.” Recebi este pequeno poema incluído numa dedicatória de um livro do poeta Vergílio Alberto Vieira (Oratória do Vento). Já me aproveitei dele duas vezes para dois textos diferentes que me pediram para outras tantas publicações.
Sou amigo do poeta de Amares há cerca de quatro décadas mas a nossa amizade nunca foi tão alimentada como nos últimos anos. Tivemos amigos comuns que já morreram, ainda temos amigos comuns que nos convidam para antologias, ou para colaborações em revistas cuja memória se perde na barafunda da vida; temos ainda alguns amigos comuns que vamos reencontrando por aí muitas vezes em intervalos de dezenas de anos. Foi o que aconteceu, recentemente, na terra do poeta no lançamento da sua foto-biografia com o título de “Meu teatro de papel”.
A actual vida política portuguesa é um nojo desde Durão Barroso e José Sócrates, só para falar de dois ex-primeiros-ministros que acho que foram para a política para enriquecer. A classe política acomodou-se, nivelou tudo por baixo, e quem nasceu mais alto do que a média dos portugueses ou anda baixinho na vida pública ou leva a cabeça cortada, caso não aceite andar por aí de pernas para o ar como anda a maioria dos políticos e dos seus assessores. O debate à volta do novo aeroporto, provocado pela constituição de uma Comissão que vai andar por aí a badalar o assunto só para encher chouriços, serve que nem ginjas aos políticos para, um dia destes, optarem por uma solução de recurso que nos vai deixar a chuchar no dedo. Depois de uma geringonça, com uma maioria absoluta para governar, António Costa teve algures no tempo um AVC político e anda por aí a governar como um doente crónico, sempre de cama, sem saber para que lado se há-de virar.
Esta semana, excepcionalmente, dois artigos de opinião de O MIRANTE tiveram cerca de 100 mil visualizações no online, o que demonstra bem o alcance do jornal junto dos leitores que vivem fora da região. O MIRANTE trabalha em 23 concelhos que têm uma população de cerca de meio milhão de habitantes, mas o número de leitores únicos na edição online ultrapassa em muito os quatro milhões. E no papel também há muitos anos que lideramos à frente de todos os jornais ditos de circulação nacional.
Nem por isso o Governo sabe que existimos; não há campanhas de publicidade para os jornais, nem sequer sobre saúde pública quando mais de metade da população não tem médico de família. Vamos tendo a ajuda ao Porte Pago e é um pau. Mas está escrito nas estrelas que até isso um dia destes vai acabar; basta que um Arons de Carvalho do PS se levante mal disposto com os jornalistas e a imprensa local e regional leva um último chuto no cu.
O 13 de Maio deste ano em Fátima foi-me relatado como o ano em que se roubaram mais carteiras. Uma vizinha contou que só levou uma carteirinha debaixo do braço, com dinheiro e cartões, e ficou sem ela enquanto segurava na vela e se comovia em lágrimas na altura em que o som da oração mais ecoava no recinto do Santuário. Na cidade onde vivo os fiscais do estacionamento aumentaram para o dobro. O aumento dos pequenos roubos em ajuntamentos e em carros, durante a noite, está sempre ligado ao aumento da pobreza, da falta de rendimento familiar, e é nestas alturas, precisamente, que as autoridades de farda, a mando dos dirigentes e políticos, também saem mais para a rua para engrossarem os orçamentos depauperados das instituições do Estado. Quando os pobres mais precisam de ajuda é quando certos organismos dos governos compram mais fardas, e contratam mais gente para as vestir, de forma a poderem roubar sem serem confundidos com os gatunos. JAE.