Opinião | 02-06-2023 07:00

Encerrados num labirinto sem saída

É tudo deprimente a começar na extrema-direita e a acabar na extrema-esquerda. Mas o que ainda deprime mais é constatar que seria impossível qualquer governante do Chega, por mais boçal e incompetente que seja, ter menos sentido de Estado, ser mais mentiroso e ter conduzido uma política mais danosa para o interesse nacional do que os governantes socialistas. Era possível fazer igual, ainda que não esteja ao alcance de qualquer um, por muito incompetente e desonesto que seja, mas pior era impossível.

O que causa mais angústia e desespero a um pacato cidadão que apenas ambiciona viver num país que valorize a seriedade e a honestidade é constatar que Portugal nunca vai ser esse país. E os portugueses estão tão cientes disso que, se fizermos este desabafo a um nosso amigo ou conhecido, a resposta mais animadora que recebemos é que nos outros países é igual.

Que somos governados por uma associação de malfeitores, que usa o Estado em benefício próprio e dos seus amigos, num fartar vilanagem à vista de toda a gente sem qualquer pudor ou vergonha, toda a gente sabe e já ninguém estranha. Como se fosse normal o que se passou e passa na TAP e no Ministério das Infraestruturas, as relações incestuosas entre autarcas, Governo, grandes empresas de construção civil e clubes de futebol, as alterações legislativas feitas à medida, os subornos dos Césares Boaventura, de funcionários judiciais e de magistrados, os sacos azuis e a compra e venda de resultados desportivos.

Mas ninguém espere que os portugueses alterem este estado de coisas através do voto. Toda a gente sabe como se ganham eleições e campeonatos em Portugal. Mas, desde que o Governo lhes garanta o emprego público e o pagamento das pensões, dos subsídios e do RSI, o voto está garantido. Até tremem só de pensar que pode chegar aí um Governo que quer cortar a direito e acabar com a mama que eles consideram um direito adquirido. As críticas ao Governo, a choraminguice e a vitimização destinam-se apenas a ver se cai mais algum. Mas ninguém quer mudar nada. Se existe alguém por aqui que esteja a pensar em ganhar dinheiro a trabalhar, o melhor é ir para o estrangeiro...

E depois é tudo deprimente a começar na extrema-direita e a acabar na extrema-esquerda. Mas o que ainda deprime mais é constatar que seria impossível qualquer governante do Chega, por mais boçal e incompetente que seja, ter menos sentido de Estado, ser mais mentiroso e ter conduzido uma política mais danosa para o interesse nacional do que os governantes socialistas. Era possível fazer igual, ainda que não esteja ao alcance de qualquer um, por muito incompetente e desonesto que seja, mas pior era impossível.

E ver Augusto Santos Silva, um político que sempre fez gala na arrogância e na falta de educação como trata os seus opositores internos e externos, que, politicamente, andou sempre em más companhias e que esteve envolvido na tentativa de controlo da comunicação social pelo Governo de José Sócrates, à boa maneira fascista-leninista, armar-se em defensor do Estado de Direito e dos valores das democracias liberais com a sua berraria contra o Chega dá a volta ao estômago a qualquer democrata. É mesmo caso para dizer: Chega!

A alternativa à extrema-direita não pode ser um centrão tentacular, incompetente e corrupto que enriquece à custa da apropriação indevida dos recursos nacionais. MAS INFELIZMENTE É.

E também ninguém espere que a solução venha do lado da justiça e das leis por mais buscas da Judiciária que sejam noticiadas nos jornais nacionais. Quando as leis são feitas por aqueles que elas deviam perseguir, apenas servem para ajudar os seus autores a safarem-se, caso tenham o azar de serem apanhados.

Não vale, pois, a pena alvitrar soluções, porque este é precisamente um daqueles problemas que não tem solução. Vivemos encerrados num autêntico labirinto sem saída.

Santana-Maia Leonardo

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