Opinião | 11-07-2023 21:00

As razões para Garrido e Queimado serem arguidos

À Margem / Opinião

Paulo Queimado e Joaquim José Garrido, camaradas do mesmo partido (PS), foram constituídos arguidos por causa de num negócio que envolve a edição de dois livros por um valor superior a 40 mil euros, cujos exemplares terão sido impressos na gráfica do presidente da Assembleia Municipal da Chamusca. A “Carta Arqueológica do Concelho da Chamusca” e “100 anos, 100 poemas”, de Maria Manuel Cid, são os livros em causa. A Polícia Judiciária esteve nos Paços do Concelho em Março deste ano para consultar o processo referente às edições dos livros que a câmara adjudicou a uma empresa dos filhos do presidente da assembleia municipal, que por sua vez entregaram a paginação, impressão e acabamentos à empresa do pai, a Garrido Artes Gráficas. O que está em causa poderá ser o facto dos filhos de Joaquim José Garrido serem testas de ferro de negócio entre a autarquia e a empresa propriedade do autarca socialista.

Munícipe voltou a escrutinar presidente da Câmara e da Assembleia da Chamusca

Na última Assembleia Municipal da Chamusca a munícipe Isabel dos Santos voltou a substituir-se aos políticos da oposição e colocou questões a Paulo Queimado e Joaquim José Garrido que deixaram os dois autarcas atrapalhados e um ambiente tenso no salão nobre do edifício dos Paços do Concelho.

O ambiente político na Chamusca continua a ferro e fogo depois da munícipe Isabel dos Santos ter voltado a marcar presença numa sessão de assembleia municipal, que se realizou a 28 de Junho, e colocar em sentido Paulo Queimado e Joaquim José Garrido, os dois autarcas que foram constituídos arguidos por suspeitas de, ao longo dos últimos três anos, terem feito negócios que envolvem mais de 40 mil euros na edição de livros (ver caixa). Os presidentes da câmara e da assembleia municipal mostraram alguma atrapalhação na hora de responder e limitaram-se a dizer que o assunto está em segredo de justiça.
Dirigindo-se a Garrido, Isabel dos Santos recordou o discurso de raiva do autarca na sessão solene de 25 de Abril onde as palavras de ordem foram “frustrações”, “ódios perversos”, “actos canalhas”, “canalhices”, “bastardos”, “crápulas”, “falta de ética”, entre outras. “O senhor disse que o que atrapalhava na vida era a falta de cidadania e que não devia haver fogueiras na opinião pública. Por isso pergunto-lhe porque é que o senhor foi constituído arguido”, questionou. O presidente da assembleia referiu que o assunto está em segredo de justiça e que não pode dizer nada sobre ele. A munícipe retorquiu afirmando: “mas na altura dos acontecimentos podia ter dito alguma coisa às pessoas. Vocês são eleitos para representar a população, deveriam dar uma palavra às pessoas”, sublinhou. O autarca aconselhou a munícipe a acreditar na lei: “deixe correr que vai saber. Há muitos órgãos de comunicação social que não respeitam a justiça, mas eu respeito”, afirmou.

Um agradecimento irónico
Isabel dos Santos concluiu a sua intervenção com um agradecimento, em tom irónico, dirigido a Paulo Queimado. “Gostaria de fazer um agradecimento ao senhor presidente da câmara pela solidariedade que demonstrou para com os funcionários na última assembleia. Pena ter-se esquecido de dizer que perdeu uma acção em Tribunal em 2017 e que recorreu. Agradeço as palavras de solidariedade, mas agradecia antes que me tivessem pago o que me pertencia. Se a autarquia se dá ao luxo de ter carros de 80 mil euros e telemóveis de quatro mil, também poderia pensar nos seus funcionários. Não é preciso tanto luxo para estar a representar a autarquia”, disse. Joaquim José Garrido não deu a palavra ao presidente da câmara tendo a munícipe ficado sem resposta. A intervenção de Isabel dos Santos diz respeito ao período em que o horário de trabalho na função pública aumentou de 35 para 40 horas. Durante um ano os 200 funcionários trabalharam mais cinco horas semanais e exigem o pagamento das mesmas. O Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria já se pronunciou, em 2017, na sequência de uma providência cautelar colocada pelo STAL em 2013 com decisão favorável aos trabalhadores. Nessa altura, a autarquia recorreu da decisão do tribunal, processo que ainda decorre.

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