Comprar viagens TAP para voar numa “low-cost” búlgara e pagar dívidas da Nersant para ter um novo brinquedo
Evolutivo Serafim das Neves
Evolutivo Serafim das Neves
Entusiasmei-me de tal maneira com a novela da TAP, transmitida em horário nobre, no Canal Parlamento, que decidi experimentar as delícias de viajar numa companhia de bandeira, como diz o primeiro-ministro. Fui apenas de Lisboa a Varsóvia e voltei mas deu para perceber que aquilo está muito bem entregue e que não admira que dê lucro.
A estratégia comercial é fantástica e só quem não a conhece, como fiquei a conhecer, pode criticar os ordenados ou as indemnizações pagos aos administradores.
Comprei as viagens a preço TAP e viajei para lá e para cá num avião de uma companhia búlgara de baixo custo. Graças àquela gentileza, pessoas como eu, que nunca comprariam um voo à Fly2Sky, ou outra do mesmo género, podem experimentar algo diferente, e alargar os seus horizontes...aeronáuticos, digamos assim.
Estranhei um pouco quando me fizeram embarcar num avião de marca branca, em vez de um avião com a nossa querida bandeira, mas percebi que era por causa do famoso segredo de Estado. E também compreendi que os pilotos se chamassem Yuri ou Ivan. Pelo que sei, contratar imigrantes fica mais barato e toda a poupança é de elogiar. E que poupadinhos são os gestores da TAP, como se sabe.
Para Varsóvia a cadeira que me calhou estava um pouco desconjuntada, o que me permitiu perceber melhor como viajavam as pessoas no século passado. Apesar das dores nas costas foi muito didáctico. No voo para Lisboa o revestimento do braço do cadeira estava solto e pude apreciar ao pormenor os intestinos do sistema hidráulico de recosto do assento. Uma situação quase tão espectacular como uma visita à cabina dos pilotos. E tudo isto sem pagamento extra.
Os pagamentos extra eram só para escolher o lugar; para entrar primeiro no avião; para comprar o direito a transportar mais uns quilos de bagagem e para tudo o mais que um voo marca branca, como aquele, cobra. Digo-te já que, sem a TAP, nunca poderia ter vivido a experiência de um voo tipo Javard Air, dos Gato Fedorento. E recomendo a quem goste de aventura... e da TAP, claro.
Não comprei a famosa comida de micro-ondas, porque levei um pão de Rio Maior, um queijo aqui da serra, uma marmita com cozido à portuguesa e várias garrafinhas de 100 mililitros de tinto, que é a quantidade máxima de líquido por embalagem que se pode levar.
Tinha visto quais os artigos proibidos na bagagem de mão e arrisquei, mas arrependi-me quando vi o ar de satisfação dos outros passageiros a devorar folhados de salsicha e sandes de atum em pão de forma. Para a próxima não farei o mesmo, prometo.
Quem também merece aplauso é o presidente da Nersant, Domingos Chambel, por aplicar à associação empresarial métodos de gestão com provas dadas no futebol, por exemplo. Pelo que li, ele está a meter dinheiro do seu bolso na organização. E se, no futebol, houve dirigentes que acabaram por ficar com os clubes ele pode acabar por ficar com a Nersant... para poder brincar sozinho com ela sem ter ninguém a chateá-lo.
Saudações voadoras
Manuel Serra d’Aire