Marques Mendes e a desertificação
Não existe na União Europeia e no mundo civilizado um único governo que vote ao abandono e ao desprezo 4/5 do seu território como acontece com o Governo de Lisboa. A população portuguesa que reside no Alentejo, na Beira Interior e em Trás-os-Montes devia pôr os olhos em Olivença. Até eu, que nunca gostei de Castela, tenho de reconhecer que pior do que ser governado por Madrid é ser governado por Lisboa.
Marques Mendes, no seu comentário nacional do passado domingo, mostrava-se muito preocupado e impressionado com os últimos números da PORDATA, relativamente à distribuição da população pelo território nacional. Segundo os dados da PORDATA, praticamente metade da população portuguesa amontoa-se na cidade Lisboa-Porto (44,5%), 82,5% da população reside no litoral e na zona fronteiriça reside apenas 4,3% da população portuguesa. Ou seja, a esmagadora maioria do território nacional encontra-se, literalmente, às moscas e, como se isso não bastasse, a maioria são moscas mortas ou para lá caminham.
Luís Marques Mendes, recorde-se, é natural de Guimarães, licenciou-se em Coimbra e hoje reside em Lisboa. Sendo um comentador com grande experiência política e conhecendo por experiência própria o percurso que leva à desertificação do território nacional (Guimarães – Coimbra – Lisboa), seria a pessoa indicada para propor a solução para inverter este processo. Bastava responder a esta questão: “ o que me levou a deixar Guimarães para vir viver para Lisboa? ” Com efeito, se Guimarães lhe conseguisse oferecer as oportunidades que Lisboa lhe ofereceu, não só não teria necessidade de vir viver para Lisboa como também muita gente que reside em Lisboa teria ido viver para Guimarães.
Acontece que Luís Marques Mendes já está acomodado às mordomias da capital e do litoral pelo que até fica com os cabelos em pé só de pensar que Lisboa iria deixar de ser a capital imperial onde tudo se concentra, centraliza e amontoa.
Qual é, então, a solução apontada por Luís Marques Mendes para combater a desertificação do território? A mesma que é apontada pela elite política e do comentário político lisboeta: a IMIGRAÇÃO. Mas não está a pensar certamente nos imigrantes qualificados, uma vez que este tipo de imigração tem como destino empresas de ponta e/ou grandes empresas. E, como todos sabemos, não há grandes empresas onde não há população.
Qual é, então, a imigração que poderá ser atraída por um interior pobre e despovoado? A imigração-escrava que vive em condições degradantes e miseráveis, assim como as comunidades ciganas, as únicas que ainda garantem a fixação da população jovem no interior do país.
Resumindo: para os políticos e comentadores lisboetas, a solução para a coesão territorial não é modelo de desenvolvimento holandês das cidades médias, mas o modelo israelita dos dois estados: o povo escolhido por Deus fica com a estreita faixa litoral Lisboa – Porto, delimitada pela A1; por sua vez, a Faixa de Gaza (o interior do país e o Alentejo) é destinada à comunidade cigana e à imigração-escrava.
Não existe na União Europeia e no mundo civilizado um único governo que vote ao abandono e ao desprezo 4/5 do seu território como acontece com o Governo de Lisboa. A população portuguesa que reside no Alentejo, na Beira Interior e em Trás-os-Montes devia pôr os olhos em Olivença. Até eu, que nunca gostei de Castela, tenho de reconhecer que pior do que ser governado por Madrid é ser governado por Lisboa. Excepto para os lisboetas, obviamente.
Santana-Maia Leonardo