A vozearia como expressão da democracia e o regresso dos médicos cubanos para salvar o Serviço Nacional de Saúde
Igualitário Serafim das Neves
Igualitário Serafim das Neves
Referes a misoginia da festa dos Tabuleiros de Tomar e dás como exemplo a manutenção da designação Cortejo dos Rapazes para um desfile em que há tantos rapazes como raparigas e em que, ainda por cima, são elas que levam os tabuleiros à cabeça durante todo o percurso. Se pensarmos bem, é exactamente por isso que o cortejo mantém o nome. E também porque assim o exige a tradição.
A Festa dos Tabuleiros pode não ser um exemplo a nível da igualdade de sexos, mas é um excelente exemplo da manutenção das tradições. Gualdim Pais e os homens do seu tempo, cavaleiros Templários ou não, ficariam satisfeitos que voltassem cá e assistissem à coisa.
Mas há outras interpretações. Qualquer feminista das boas te dirá que ao carregarem os Tabuleiros, as mulheres mostram a sua superioridade, porque os homens não o conseguem fazer. Seja por não terem força ou por não conseguirem equilibrar aquelas torres de pão no cocuruto das suas minúsculas cabeças. E quem sou eu para contestar?!!
É como o recurso a médicos cubanos para salvar o Serviço Nacional de Saúde, que alguns contestam, não sei porquê. Quando eles cá estiveram, no tempo dos governos Sócrates, havia menos pessoas sem médico de família. E se recorremos a nepaleses e indianos para nos tratarem dos bróculos e dos mirtilos, porque não havemos de recorrer a cubanos para nos tratarem da saúde?!!
Os activistas, sindicalistas, corporativistas e nacionalistas, dirão que vêm roubar os empregos a médicos portugueses que, coitados, vão ser obrigados a emigrar, ainda por cima em voos que partem de um aeroporto velho e sobrecarregado. O pessoal que não tem médico de família tem outra opinião. Eu, por exemplo, já ando a ver, como se diz, dores nas costas, diabetes, colesterol alto, receita e ressonância magnética, em espanhol, para me entender com eles.
O Bastonário da Ordem dos Médicos diz que a vinda dos médicos cubanos, ou de qualquer outra nacionalidade, significa que o ministro da Saúde está a desistir dos médicos que são formados em Portugal. Qualquer bom nacionalista, ou médico português lhe dará os parabéns por desempenhar tão bem o cargo. Mas se ele fosse Bastonário da Ordem dos Doentes, se tal coisa existisse, diria algo diferente, embora também tivesse razão, claro. É esta a beleza da liberdade de expressão.
Antes dizia-se: “Todos falam e ninguém tem razão”, mas isso era antes. Agora todos falam e todos têm razão. A vozearia é a expressão máxima da democracia. E já saltou da mesa do café e dos almoços de convívio, para as redes sociais e transbordou para os jornais e televisões. E quem vozear mais alto, tem mais possibilidade de ser ouvido. Ou quem tiver mais tempo de antena.
Algumas almas sensíveis, dirão que era melhor cada um tirar uma senha e esperar a sua vez para falar, mas o sistema de senhas, já se sabe, espartilha a liberdade. É uma espécie de antecâmara do totalitarismo.
“Hasta siempre”
Manuel Serra d’Aire