Opinião | 09-08-2023 07:00

Os assaltantes comediantes, os anedóticos burlões e os refrescantes deputados socialistas que tanto nos divertem

Emails do outro mundo

Epicurista Serafim das Neves

Epicurista Serafim das Neves
Woody Allen contava, numa das histórias do livro “Para Acabar de vez com a Cultura”, que um amigo tinha sido assaltado e que o ladrão, depois de lhe tirar tudo o que ele levava, ainda lhe dera um tiro. Ele concluía que uma situação daquelas só poderia acontecer em Nova Iorque.
O livro, editado em Portugal nos anos oitenta, era apresentado como um conjunto de histórias hilariantes e lembrei-me dele depois de ler que uma denominada “vaga” de assaltos no Entroncamento, que incluiu o Tribunal e o Centro de Saúde, terminou com a detenção do autor, por este ter actuado de cara descoberta e ter deixado mais vestígios que um rebanho de cabras incontinentes a atravessar uma aldeia aqui da serra.
E este não é um caso isolado na região. Quantas e quantas histórias o jornal já contou, de assaltantes que adormeceram no local do assalto, ou que se deixaram ficar a petiscar, nomeadamente em cafés e restaurantes, até chegar a polícia?! E até há casos, como te deves lembrar, em que o assaltante ficou retido no local do crime...por não conseguir sair. É por estas e por outras, que qualquer série de crime portuguesa, tipo CSI, acaba sempre arrumada na secção de comédias.
Agosto já não é o que era em matéria de notícias. Há uns anos era a época dos disparates e dos assuntos anedóticos, a “Silly Season”, como lhe chamavam os puristas da moderna língua portuguesa. Agora, provavelmente por causa das alterações climáticas, todo o ano é um Agosto anedoticamente noticioso. Mesmo quando algum político diz uma coisa a sério já ninguém acredita.
Já tínhamos acabado com as mentiras do dia 1 de Abril, à custa de querermos ter um dia das mentiras todo o ano. Agora descaracterizou-se Agosto... apesar de em Agosto, diga-se a verdade, ainda surgirem saborosos e refrescantes nacos noticiosos, à moda antiga, embora em novos contextos, como os das redes sociais.
Que alguém tenha assumido a identidade do presidente da Câmara da Golegã, António Camilo, na rede social Facebook, é notícia. Que esse alguém, usando a falsa identidade, tenha escrito algo como: “A minha esposa acabou de me ligar dizendo que precisa de 10 mil euros. Estou com tanto trabalho será que podes ir fazer a transferência bancária para a minha esposa. Depois quando eu sair do serviço devolvo-te. Pode ser?”, não é burla. É anedota!!!
Seja como for, se quiseres transferir dez mil euros para algum lado, não transfiras para a conta da esposa do presidente da Câmara da Golegã. Transfere para a minha. Prometo que lhes darei melhor uso que ela.
Há quem diga que os políticos não tratam dos assuntos dos cidadãos que os elegeram. Nada mais falso. Ainda agora li que os deputados do PS eleitos por Santarém questionaram o Governo sobre a falta de médicos de família no concelho de Ourém e sobre as medidas que estão previstas para colmatar o problema. Perante isto e tendo em conta tudo o que tem acontecido em todo o país a nível da crescente falta de médicos de família e as últimas notícias sobre a importação de médicos cubanos, quem se atreverá a dizer que estes bravos deputados socialistas não merece o que ganham e os votos que lhes demos?!!
Saudações hilariantes
Manuel Serra d’Aire

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