As desaparições de Fátima e a miraculosa jornada de multiplicação dos polícias e médicos
Abençoado Manuel Serra d’Aire
Abençoado Manuel Serra d’Aire
Portugal foi invadido por uma horda de jovens tementes a Deus a pretexto de um grande evento (como agora se diz) da Igreja Católica chamado Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O país preparou-se a contento para receber estes milhares de peregrinos vindos de todo o mundo, ou seja: gastaram-se os milhões do costume, fizeram-se os ajustes directos habituais, o eufórico Presidente da República ia arrancando os braços ao Papa ao cumprimentá-lo, houve as críticas e a má-língua usuais e até decapitaram uma estátua de Santo António em Torres Novas, vá lá saber-se porquê.
Como diria o beatífico presidente da Câmara de Lisboa, este foi um evento único nas nossas vidas. E concordo com o autarca-acólito alfacinha pois a JMJ demonstrou que a Igreja Católica está pujante e continua capaz de inspirar milagres até há pouco impensáveis. Vê tu bem que só para o dia da visita do Papa a Fátima estava anunciada a presença de dois (2) mil elementos da GNR nessa cidade. Estava longe de imaginar que havia tantos guardas neste país atendendo a que no nosso Ribatejo existem postos da GNR que fecham à noite porque não há quem possa tomar conta da casa. Como vês, deve ter sido graça divina!
E não foram só os guardas que se multiplicaram por obra e graça do Ministério da Administração Interna, como noutros tempos aconteceu com os pães e os peixes graças à intervenção de Jesus. Por estes dias os médicos deram em reproduzir-se como coelhos ao ponto de serem suficientes para assegurar os vários hospitais de campanha montados para a JMJ e o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde. O mal afamado Parque Eduardo VII foi transformado em recinto de oração e celebração religiosa. E dizem que até os comboios andaram e não houve nenhuma greve dos professores. Se isto não é transcendental, como raio o podemos classificar?
Como cereja no topo do bolo, em Fátima (onde mais haveria de ser?) até houve notícias de misteriosas desaparições, o que é uma nuance a ter em conta na categoria dos milagres. Neste caso, não foram três pastorinhos que se evaporaram mas sim um rebanho inteiro de fiéis vindos de Angola e Cabo Verde para a JMJ. Qualquer coisa como uma centena, relatava com ar entre o preocupado e o desgostoso um pivô televisivo visivelmente aflito por se desconhecer o paradeiro do tresmalhado grupo.
Coisa bonita de se ver foi a nossa classe política a venerar Francisco na missa final. Por lá estavam governantes, deputados e, obviamente, muitos autarcas, entre eles alguns da nossa região que fizeram questão de ir beijar o anel ao Papa (em sentido figurado, claro, porque não havia tempo para tanto ósculo) e dar conta disso ao mundo através das redes sociais. Com tanto político junto, até parecia um jogo da selecção nacional...
Calorosas saudações do
Serafim das Neves