Santarém não se discute
Santarém é a capital do distrito mas não parece a confiar no debate político que está pela hora da morte. Quase 20 anos depois de ter perdido as eleições para a câmara Rui Barreiro ainda é o Soba dos socialistas escalabitanos.
O debate político está pela hora da morte; Santarém não se discute como não se discute a política na Barquinha ou em Alcanena, no Cartaxo ou em Azambuja. Não há massa crítica que sobreviva depois de umas eleições em que um partido ganha o Poder. Falo de Santarém porque é a capital do distrito. O actual presidente da câmara, Ricardo Gonçalves, herdou uma autarquia minada por Moita Flores, que deixou a câmara pior do que a tinha herdado de Rui Barreiro. Não vou fazer ainda o escrutínio do reinado de Ricardo Gonçalves, mas vou deixar aqui escrito preto no branco que dificilmente Santarém muda de cor partidária nas próximas eleições. Santarém não se discute, repito, é tudo igual ao quilo; se um socialista importante no aparelho precisa de emprego na Câmara de Santarém para a sua mulher ou prima, quem entra em acção e vai pedir batatinhas é Rui Barreiro. E isto é só um exemplo. Ninguém dá por isso, mas o PS de Santarém ainda é gerido pelo homem que perdeu a câmara há quase 20 anos para o PSD, e quatro anos antes, quando a ganhou, só faltou dar ordem de prisão para José Miguel Noras, o seu antecessor. E há uma razão profunda para que Rui Barreiro ainda seja hoje o elo mais forte do PS de Santarém: ele é homem de negócios, para ele é mais importante controlar o PS que o partido voltar a ganhar a câmara. Porquê? Porque precisa da máquina partidária para defender os seus interesses pessoais. É assim em Santarém e em todo o país. Os grandes herdeiros do 25 de Abril são os políticos que se eternizam nos lugares e tomam conta da administração do Estado enquanto funcionários públicos, como é o caso de Rui Barreiro, embora a sua vida tenha sido ocupar cargos de administração de empresas do Estado.
Assim como é evidente que Ricardo Gonçalves não teve tempo nem equipa para reformar os serviços técnicos da câmara, que são quem manda nisto tudo Rui Barreiro vive da baba e do ranho que deixou em cada canto do município e assim vai sobrevivendo como uma aranha dentro da sua teia.
É quase certo que o candidato do PSD que vai substituir Ricardo Gonçalves nas próximas eleições faz parte da sua equipa. E o PS? Muito se tem falado sobre Pedro Ribeiro, o actual presidente da Câmara de Almeirim; mas alguém acredita que um político inteligente e com obra feita se sujeite a meter-se entre Rui Barreiro, o político e empresário, e quase todos os outros socialistas de Santarém que estão debaixo do seu braço? Algum político com currículo, e com juízo, vem enredar-se nas teias dos socialistas que estão sob o comando de Rui Barreiro? A candidatura também anunciada de Nuno Russo é outro embuste; ele é o mais novo braço armado de Rui Barreiro; com Nuno Russo o PS só ganhará (des)esperanças e Rui Barreiro manterá o seu poder de Soba.
Santarém não se discute porque a cidade parece que parou no tempo. Este exemplo do poder subterrâneo de Rui Barreiro só acontece porque em Santarém impera o respeitinho; há uma classe dirigente acamada, uns em fim de vida e outros doentes, mas na terra onde há muitos séculos os reis vinham caçar fizeram-se muitos filhos que, entretanto, ficaram por cá e também construíram família e ainda hoje vivem orgulhosamente falando do seu sangue monárquico. O resto é povo, para receber o Papa e fazer requerimentos à Câmara de Santarém para pintar as fachadas dos prédios ou reconstruir a casa da avó. JAE