O beijo
É o silêncio das gentes razoáveis e de bom senso que permite que tontos tomem conta do espaço público, fazendo das suas agendas modernaças, verdades únicas e inatacáveis.
Temos o beijo de Klimt, exposto na Galeria do Palácio Belvedere, em Viena de Áustria, o beijo que o PSD deu ao PS em Santarém, exposto em notáveis altercações sobre temas incontornáveis para o nosso desenvolvimento como são as rotundas e os parques de skate e temos ainda o beijo que o Sr. Rubiales deu, alarvemente, à Sra Jenni Hermoso, exposto e dissecado por tudo e por todos.
Mas é sobre o ósculo “espanhol” que me pronuncio, dado que estou cansado de tanta imbecilidade e a idade que vou somando traduz-se cada vez mais na falta de paciência e de filtro para tanta parvoíce junta. Decidi não me silenciar sempre que a agenda hipócrita e desconstrutiva “woke” espreita a cada esquina, disfarçada de moralista e - pasme-se! - de bons costumes.
É o silêncio das gentes razoáveis e de bom senso que permite que tontos tomem conta do espaço público, fazendo das suas agendas modernaças, verdades únicas e inatacáveis.
Tenho pena que tantas pessoas que abominam, em privado, o autoproclamado itinerário progressista, se remetam, depois, a um silêncio ensurdecedor, apenas por medo das reacções da turba do “mainstream” e de deixarem de pertencer à luminosa tribo da modernidade. Claro e com agravante de serem também rotuladas de fascistas.
Não vou fazer nenhuma autojustificação introdutória que me salvaguarde de futuros rótulos. Ou seja, utilizar aquele ardil de concordar inicialmente com a reacção global maioritária “woke”, para depois me atrever a contrariar, nalgum ponto, o ideário da modernidade, sem o perigo de me enxovalharem na volta do correio. Neste caso, teria de asseverar que o Sr Rubiales era um tarado sexual para depois poder continuar com o meu raciocínio.
Recuso-me a tal. Os valores e a educação que os meus pais me transmitiram não permitem sequer estar a perorar sobre o óbvio.
O que me abespinha é que aqueles e aquelas que têm necessidade de remoer e remoer sobre o ósculo do Sr. Rubiales, transpirando moral por tudo o que são poros dos seus santificados entes corpóreos, são precisamente os mesmos que defendem a legalização da prostituição e que defendem - e muitos pagaram - com unhas e dentes aqueles encantadores cartazes que diziam qualquer coisa como “mais de 4800 crianças foram abusadas pela Igreja em Portugal”.
Como é que se consegue protestar contra um abuso moral e físico exercido sobre uma jovem mulher - traduzido num beijo público - e defender, serenamente, a legalização da venda humilhante do mais íntimo que uma mulher possui: a totalidade da sua dignidade.
Como é que se pode apoiar um cartaz raivosamente mentiroso, cirurgicamente colocado durante a Jornada Mundial da Juventude? Afirmar que foi a Igreja portuguesa que abusou de crianças é o mesmo que dizer que a Alemanha é nazi, que o Bloco de Esquerda é especulador imobiliário e que o Partido Socialista é corrupto.
Como é que se atrevem a criticar o Presidente Marcelo quando este opinou que o gesto grotesco do Sr Rubiales é menos grave que a guerra assassina que se passa na Ucrânia? Pois eu digo mesmo mais, é desmesuradamente menos grave.
Para que fique registado, o ósculo do Sr Rubiales machucou, mas não matou ninguém e na Ucrânia, morrem homens, mulheres e crianças todos os dias.
Existe uma agenda que pretende intimidar, mas que há muito se denunciou sobre os seus verdadeiros intentos. É uma agenda política e não cultural, que utiliza esta última dimensão como um camuflado daquela e que pretende, nem mais, nem menos, a conquista do poder e do poder absoluto.
A dignidade humana não é negociável.
P.N.Pimenta Braz