Opinião | 25-10-2023 18:00

Das visões inspiradoras de Júlio Verne à campanha bélica contra o lagostim e o caranguejo peludo

Emails do outro mundo

Inspirado Manuel Serra d’Aire

Inspirado Manuel Serra d’Aire

O que liga o projecto da ferrovia de alta velocidade entre Lisboa e o Porto, o novo aeroporto de Lisboa, a conclusão da A13 entre Almeirim e Barquinha, a construção de novas pontes nas zonas da Chamusca, de Abrantes ou de Coruche ou a edificação do novo tribunal de Vila Franca de Xira à genialidade visionária da obra de Júlio Verne? A capacidade de efabular e de antecipar cenários futuristas que por vezes, décadas depois, acabam por se concretizar. O escritor francês, falecido em 1905, imaginou submarinos, máquinas voadoras e idas à lua muito antes de tais coisas se concretizarem. Mais tarde ou mais cedo acertou, embora ainda haja algumas visões por cumprir, como a fórmula da invisibilidade. Mas lá chegaremos, tal como chegará o novo aeroporto. Só não se sabe quando…
A então incrível volta ao mundo em 80 dias contada por Verne faz-se hoje em menos de 80 horas, por exemplo, e é isso que me leva a alimentar a esperança de que os projectos visionários que sucessivos governos portugueses têm anunciado, um dia possam também ser realidade. Até lá, à falta de melhor, vão-se fazendo visitas e anúncios de ministros, como aconteceu recentemente com a visita da ministra da Justiça a Vila Franca de Xira, onde engrossou a lista de governantes a prometer o novo tribunal, desta vez estabelecendo a meta até 2026.
A ministra da Justiça disse em Vila Franca de Xira, imagino que sem se rir, “que, se tudo correr como previsto, o novo tribunal deverá estar concluído até perto de 2026”. Obviamente, o mais certo é que não corra como o previsto e que nem em 2024 ou 2025, os anos mais próximos de 2026, venhamos a ter novo tribunal. Mas cada um faz o que pode, nem que seja umas visitas e dizer umas coisas. Sem isso, a vida de ministro seria uma pasmaceira, passada nos gabinetes a despachar papelada. Os governantes mais afoitos ou sortudos ainda têm o privilégio de lançar umas primeiras pedras, em que, por breves instantes, têm contacto com a realidade da obra física. São os chamados contactos imediatos do terceiro grau.
O mundo está perigoso, as guerras proliferam e Santarém também já tem um alfinete no mapa dos conflitos, com o município a declarar guerra ao lagostim vermelho do Louisiana e ao caranguejo peludo chinês, espécies estrangeiras que invadiram o rio Alviela. A Câmara de Santarém, zelando pela sua integridade territorial, já anunciou um investimento de 25 mil euros na operação anfíbia para lhes dar caça e só faço votos que o combate aos invasores seja aliado à vertente gastronómica. Que não haja só líderes destemidos na frente de batalha e que haja também chefs capazes de transformar os inimigos dizimados em delícias para os nossos palatos - com os caranguejos peludos chineses devidamente depilados, obviamente. O mote para a campanha bélico-gastronómica pode ser: “Até os comemos!”.
Uma aprumada continência do
Serafim das Neves

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