Outono e alimentação
Foco-me no festival de gastronomia, em que a sua fisionomia e estrutura se mantém, ano após ano, sem qualquer novidade de monta. Por exemplo, insiste em apresentar restaurantes que já não existem nas localidades de origem ( : ) porque não embrulhar e robustecer a gastronomia com a indústria alimentar, a qual, para a além da agricultura e pecuária, lhe dá corpo e sustento?
O Outono é aquela estação do ano em que as rotinas do trabalho vencem finalmente a inércia de um Verão estival de pés na areia. O levantar cedo, o trabalho, as responsabilidades laborais e familiares triunfam sobre a feliz modorra dos dias grandes e docemente cálidos, onde, de bebida na mão, se descansa e sonha a mirar a espuma das ondas. As horas de luz diminuem e, totalmente ao invés dos nossos vizinhos espanhóis, encasulamo-nos apressadamente nos nossos lares, numa manta ou num sofá qualquer, esquecendo de viver a vida na sua plenitude.
O que seria dos povos setentrionais, se agissem como estes cinzentos lusos, que se fecham em casa sempre que o sol se vai? Escondemo-nos uns dos outros, com o supremo alibi das baixas temperaturas e das chuvas necessárias, mas desagradáveis.
Explica muita coisa, nomeadamente, o medo de viver, sempre à espera de uma catástrofe qualquer que insiste em não chegar. São precisamente as desgraças dos outros que apresentamos como justificação para a cobardia do nosso sofá. É uma longa indolência que só desperta nos primeiros calores de Abril.
Apesar de não hibernarmos, somos uma espécie de ursos do sul da Europa, que julgam que têm Inverno, mas que ainda não se aperceberam que, com excepção da língua de terra que vai da Guarda a Bragança, nada existe semelhante a isso neste país.
Na verdade, o nosso Outono brinda-nos sempre com os fins de tarde com sabor a Verão tardio, com aromas de castanha assada, com a beleza serena do campo nos seus matizes de ocres mais ou menos intensos, que contrastam com o verde que teima em subsistir e com os amarelos e vermelhos que nos apaziguam o olhar.
Talvez por isso e para nos espicaçar a sair de casa, o Ribatejo no Outono está repleto de certames que amenizam a chegada do Inverno e preparam a grande festa e azáfama do Natal, dos quais se destacam, entre outros, o festival de gastronomia de Santarém, a feira nacional do cavalo na Golegã, a feira de todos os Santos no Cartaxo e a festa do Torricado na Azambuja.
Tratam-se de eventos que monotonamente se repetem, ano após ano, sem rasgos, que se vão mantendo nos nossos calendários, mas que não crescem, nem em valor, nem em importância.
Foco-me no festival de gastronomia, em que a sua fisionomia e estrutura se mantém, ano após ano, sem qualquer novidade de monta. Por exemplo, insiste em apresentar restaurantes que já não existem nas localidades de origem…
Porém, porque não embrulhar e robustecer a gastronomia com a indústria alimentar, a qual, para a além da agricultura e pecuária, lhe dá corpo e sustento? Sim, porque não criar um grande evento alimentar do Ribatejo, onde se inserisse o festival de gastronomia? Um certame de toda a indústria alimentar regional, deixando desta vez a agricultura de fora – esta já possui outros eventos bem reconhecidos.
Uma feira alimentar do Ribatejo que ilustrasse e soubesse vender, não apenas a indústria alimentar existente na região – azeite, vinho, carnes, farinhas lácteas, cereais e refeições desidratadas, tomate, snacks, etc -, mas também as condições únicas da região para fixação de novos investimentos. Nele se inseria então o festival de gastronomia, o qual seria obrigado a dar um salto, face a outra tipologia de visitantes que certamente surgiria.
O espaço, ou teria de ser reequacionado, ou ampliado, ou a feira alimentar – mantendo-se como evento integrador - bem que poderia decorrer fisicamente noutro local.
A região necessita urgentemente de inovação e rasgos que atraiam investimento. Então querem um novo aeroporto em Santarém para quê?!
P.N.Pimenta Braz