O associativismo é a alma da nossa terra
Os Donos Disto Tudo estão outra vez em causa e por isso António Costa pediu a demissão de primeiro-ministro. Entretanto temos uma CTI ferida de morte e um aeroporto adiado desde o tempo de Marcelo Caetano. Mas o associativismo em Portugal continua lindo e os seus dirigentes pagam do seu bolso para ajudarem a comunidade e ainda choram de alegria e orgulho por verem os frutos do seu trabalho.
Os Donos Disto Tudo (DDT) prepararam uma estrangeirinha à volta do negócio do hidrogénio e da exploração do lítio que acabaram com o reinado de oito anos de António Costa e do PS. Foi um holandês que esteve na origem das denúncias. Tinha que ser um cidadão estrangeiro. Em Portugal, a confiar naquilo que vai sendo exemplo, desde que José Sócrates e Ricardo Salgado, que fizeram uma dupla aparentemente inultrapassável, que ninguém tinha coragem para meter a boca no trombone. Ainda não sabemos para o que estamos guardados, mas certamente que vamos ter o pior São Martinho dos últimos anos porque todas as reformas, más ou boas, vão ficar em banho-maria.
A língua em sangue
O Hospital Distrital de Santarém esteve fechado das nove da noite às nove da manhã na data em que escrevo esta crónica. É muito possível que a situação se volte a repetir ou já se tenha repetido entretanto. Temos os hospitais privados como alternativa mas todos sabemos que o seguro de saúde é uma conquista de uma minoria de portugueses. O SNS vive a sua maior crise de sempre e ninguém jamais saberá quantas mortes é que esta crise vai provocar. Um doente que fique sem assistência, que seja apanhado num dia em que o hospital esteja fechado, que seja esquecido numa cama ou numa maca por falta de profissionais, morre por falta de assistência médica sem que alguém possa ser responsabilizado. A greve é um direito constitucional e os governantes não podem nem sabem exercer medicina. Quem governa o país devia estar com a língua em sangue por não conseguir salvar a vida de pessoas inocentes, que trabalharam e pagaram impostos durante uma vida, e que por causa da incompetência dos governantes e das organizações profissionais, morre como um cão vadio sem direito a veterinário.
Uma boa parte da culpa da falta de médicos não é do Governo, mas das associações profissionais que manobram os “numerus clausus” que condicionam o acesso de mais alunos aos cursos de medicina. É uma pena que os políticos não denunciem esta vigarice e os interesses instalados de quase todas as classes.
Viva o associativismo
Fui assistir à sessão de aniversário do CPCD na Póvoa de Santa Iria que, entre outras iniciativas, premiou jovens atletas, e vi o presidente da associação comovido, de lágrimas nos olhos, mas também exaltado quando a sala não estava a respeitar o silêncio necessário para a sessão decorrer normalmente. Tal como diz a dirigente Isabel Graça, da Confederação Portuguesa das Colectividades, as associações são a alma das comunidades mas são tratadas pelo Sistema como entidades com fins lucrativos, e os seus dirigentes como gestores de empresas, embora sem acesso ao subsídio de desemprego ou à reforma. O presidente da AIP diz que Portugal tem cerca de quatro mil impostos para as empresas; os dirigentes associativos ligados ao desporto, à cultura e ao recreio, dizem que se substituem ao Estado e ainda levam com os impostos como se fossem empresas. Isto só na terra dos DDT.
Ferida de morte
Com a demissão de António Costa, que se deixou envolver em mais um esquema em que os DDT achavam que podiam pôr e dispor, fica ferida de morte a CTI para o novo aeroporto. Quem corre por fora diz que Deus escreve direito por linhas tortas; e quem faz política lembra que foi preciso um holandês a fazer queixa dos compadres portugueses para cair o Carmo e a Trindade e Marcelo Rebelo de Sousa ter que trabalhar e deixar de andar por aí a fazer figura de Tio Patinhas e de homem do circo, embora sem bola vermelha no nariz. JAE.