Opinião | 20-11-2023 19:21

A maioria absurda

O Dr. Costa demitiu-se, mas continua como primeiro ministro, algo extraordinário, mas possível em Portugal. Demissão é sair, ir embora. O Prof. Marcelo deveria ter nomeado um outro ministro para assumir as funções do Dr. Costa e não o fez. E já terá mordido a língua.

O Dr. Costa descobriu no Sábado dia 11 de Novembro de 2023 que, afinal, ao fim de dezenas de anos, não era amigo do seu melhor amigo. Descobriu também que não sabia nada do que se passava com o seu chefe de gabinete, tendo mesmo pedido desculpa por alegadas desditosas condutas do próprio. Um chefe de gabinete é o braço direito de um membro de governo, sendo, pois, neste caso, o braço direito do Dr. Costa.

O Dr. Costa nunca antes pediu desculpas. O Dr. Costa sempre foi perito em imputar responsabilidades a terceiros sobre insucessos governativos. Mas desta vez pediu desculpas, sem adversativos.

O Dr. Costa teve medo. E por isso pediu desculpa.

No Sábado, dia 11 de Novembro de 2023, o Dr. Costa empurrou dois seus amigos para a lama, ficando a limpar-se plácidamente de alegados salpicos que lhe terão atingido os óculos, camisa e calças.

Nem sequer tentou qualquer justificação para o sucedido, tentando desculpá-los de qualquer coisa, ou, não obstante aparentes alegadas irregularidades ou culpas, exibir alguma solidariedade mínima para com eles.

Não. Cortou a direito e largou-os cruelmente.

O Dr. Costa sentiu medo e saltou fora.

Eu nunca iria para uma frente de batalha com o Dr. Costa. Preferiria estar sozinho.

É uma questão de carácter. Ou se tem, ou não se tem.

O Dr. Costa demitiu-se, mas continua como primeiro ministro, algo extraordinário, mas possível em Portugal. Demissão é sair, ir embora. O Prof. Marcelo deveria ter nomeado um outro ministro para assumir as funções do Dr. Costa e não o fez. E já terá mordido a língua.

É que o Dr. Costa logo aproveitou para encenar o dia 11 de Novembro de 2023, perturbando a digestão das castanhas assadas de milhares de Portugueses do dia de S. Martinho.

Tendo tido certamente acesso a informações dos processos em curso, o Dr. Costa não teve pejo em aproveitar-se do seu lugar institucional e, a partir do ambão da residência oficial do primeiro ministro, apresentar uma defesa pessoal, antecipando respostas, destrunfando à cabeça e pressionando a justiça.

O Dr. Costa aproveitou-se do lugar que ainda tem, misturando política com justiça. Sempre em proveito próprio. E Março de 2024 ainda vem tão longe…

O Dr. Costa vai tentar regressar e cuidem-se aqueles seus “compagnons de route” que não lhe mostrarem agora qualquer solidariedade e atenção.

O seu PS, pelo seu lado, vai continuar a atacar o Ministério Público e a alegar esquemas maquiavélicos e cabalas de direitas radicais para tudo justificar, como já o fez amiúde anteriormente. Eleitoralmente com sucesso, aliás.

O seu PS, aparentemente, continua a não querer aprender nada. Claro que até pode continuar a ganhar eleições. Espero que não. Mas se tal acontecer, será à custa de um Portugal cada vez mais pobre, triste e putrefacto. Sim, a tribo, essa, cobardemente, tudo vai fazer para justificar o injustificável. E um dia a democracia pode mesmo acabar por aqui.

Ao Dr. Costa nada o incomodará, a não ser o seu orgulho ferido de animal político enfurecido. Nunca perceberá que num país civilizado a transparência de processos é caminho aberto para a modernidade e a moral pública.

Por último, mas não menos importante, o Dr. Costa e seus apaniguados sempre encheram a boca com o deprimido PRR que por aí anda. Bem a propósito de transparências, espero que tenham sido diligentes, escrupulosos, esmerados, metódicos, minuciosos, responsáveis e zelosos quanto aos processos de controlo de primeiro nível de aplicação dessas verbas.

Insisto: eu nunca iria para uma frente de guerra com o Dr. Costa. O Dr. Seguro que o diga.

P.N.Pimenta Braz

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