Hipnotizados
Se nada for feito rapidamente, se não se fizerem reformas substantivas e, nalguns sectores, radicais – saúde, educação, economia -, em 2037 seremos o país mais pobre de toda a União Europeia (!!), com uma população activa cada vez mais reduzida, i.e., com cada vez mais velhos e com cada vez menos pessoas capazes de trabalhar. Fantástico.
Estamos hipnotizados, como sempre, com a espuma dos dias, ficcionando um país que não existe. Um povo que continua iludido, indolente e que deambula num quotidiano mecânico e rotineiro, sem rumo. Está satisfeito com a vidinha que vai tendo. Afinal, há muitos anos que não sabemos o que são guerras, vai-se comendo qualquer coisa, as temperaturas nem são muito agrestes e, no Verão, sempre temos o Algarve e as festas e romarias.
Teimam em venderem-nos, não ilusões, mas simplesmente mentiras - promessas que se sabe de antemão que nunca poderão ser cumpridas. Concebem-se megalomanias próprias de políticos sem mundo, gente pequenina, que está mais interessada em satisfazer interesses de algumas empresas de construção civil, do que em alavancar este Portugal para outros estádios de desenvolvimento económico, social e cultural.
Disso são exemplos claros e bem evidentes o desenho da nova linha do metropolitano de Lisboa – um escândalo! -, a insistência num aeroporto desproporcionado para a nossa realidade – mais uma nova ponte, mais caminho de ferro, mais autoestrada, etc -, ou a teimosia grotesca numa linha de alta velocidade num país minúsculo – a Suíça, um país obviamente subdesenvolvido, não tem qualquer linha de alta velocidade…
Tudo a troco de sinecuras para próprios, familiares ou terceiros, dilatadas no tempo, para que ninguém depois se lembre de fazer qualquer corelação entre factos. Mais do mesmo. Sem surpresas.
Enquanto o povo está hipnotizado pelo folhetim das eleições no PS, pelas gémeas luso-brasileiras, ou pelas eleições de Março de 2023, já se esqueceu dos dinheiros do chefe de gabinete do Dr. Costa e das ineptidões levianas de absurdos ministros como PN Santos e João Galamba.
Entretanto, passou quase despercebido pela própria comunicação social – vá-se lá saber porquê -, um relatório do Conselho das Finanças Públicas – CFP - sobre os riscos orçamentais para as finanças públicas no longo prazo, onde se projeta, entre 2023 e 2037, um crescimento do Produto Interno Bruto real a uma média de 1,2% por ano. Na ausência de choques, o ritmo de expansão da economia deverá convergir para 0,7% no longo-prazo.
O CFP aponta ainda a evolução demográfica como um risco para o crescimento da economia e para a sustentabilidade das finanças públicas, prevendo uma redução de 0,3% ao ano da população em idade activa.
Assim, relativamente à despesa, os encargos associados ao envelhecimento da população, em particular os referentes a pensões e saúde, deverão desafiar o equilíbrio orçamental, pelo que se sublinha a importância da produtividade para se conseguir um crescimento económico de longo prazo. Segundo o mesmo CFP, terá, pois, de se conceber um efectivo sistema de gestão da despesa pública para se poder fazer face ao aumento de despesa com pensões, saúde e investimento.
Ou seja, se nada for feito rapidamente, se não se fizerem reformas substantivas e, nalguns sectores, radicais – saúde, educação, economia -, em 2037 seremos o país mais pobre de toda a União Europeia (!!), com uma população activa cada vez mais reduzida, i.e., com cada vez mais velhos e com cada vez menos pessoas capazes de trabalhar. Fantástico.
Eis o resultado da passividade de um povo que não se revolta com a falta de empresas, de professores nas escolas, de médicos nos Centro de Saúde, com o fecho de urgências por todo o país, ou com a estupidez da argumentação de governantes para a mudança do logotipo do governo.
O diagnóstico está feito. Ou mudamos, ou morremos. Simples.
P.N.Pimenta Braz