Terrorismo de Estado e a luta na Justiça
Vou começar o ano em tribunal a defender o jornal e o nosso trabalho contra gente que acha que o dinheiro lhes dá poder e lhes permite arbitrariedades sem escrutínio. Entretanto o país vai para eleições, mas até agora ninguém garante que o socialismo ou a social democracia nos livram do terrorismo de Estado.
A primeira crónica do ano novo é para pedir meças a mim mesmo. Estive envolvido num texto em que as fontes do jornalista eram figuras importantes da nossa vida associativa, mas a quem O MIRANTE não dá tréguas por serem manhosos nas suas decisões, um pouco facínoras nas suas vidas pessoais e profissionais. Devia começar o ano a partir a loiça, mas tenho a certeza que me ia acontecer o mesmo que aquele que respondeu à cuspidela de uma criança com outra cuspidela; se o adulto não desse parte de fraco perante a criança ainda hoje estavam os dois a cuspir um no outro. Vai daí que resolvi seguir a velha máxima de que “cá cantarás”.
Vou começar o ano em tribunal, que é uma coisa a que já estou habituado, embora hoje muito menos do que antigamente. Mas lá estarei mais uma vez para defender o jornal e a empresa editora de O MIRANTE. A luta na justiça é contra gente que tem o rei na barriga, que acha que pode pisar sem levar troco, que julga que o dinheiro dá estatuto e sabedoria. Este trabalho de liderar um projecto de comunicação social pode tornar-se perigoso, mas é para quem trabalha nele; ficamos de tal modo apaixonados pelo que fazemos que nos esquecemos de viver a vida. Não me posso queixar porque falo de barriga cheia; estou em processo acelerado de descer à terra, mas para não chatear quem me lê dispenso-me de contar como aqui cheguei e o que ainda tenho para andar.
António Costa caiu com o seu Governo de maioria absoluta por causa do dinheiro que o seu chefe de gabinete, Vítor Escária, tinha escondido nas estantes do seu espaço de trabalho. A comunicação social não devia deixar dourar a pílula. António Costa só tinha um caminho a seguir depois do seu chefe de gabinete ser apanhado com dinheiro vivo escondido. Se fossem oito mil euros já era um escândalo; como eram 80 mil euros tornou-se um facto histórico que vai manchar para sempre a história deste último Governo.
Só a comunicação social pode ajudar o país a não esquecer os factos graves que derrubaram o Governo. Infelizmente esse quarto poder, que é a comunicação social, está cada vez mais depauperado; parece que há um terrorismo de Estado contra os jornais e os jornalistas, a confiar no desprezo que o Poder tem dedicado ao sector da comunicação social. De verdade não é só com a comunicação social; é também com a justiça, onde faltam funcionários, com a saúde onde faltam médicos, com o ensino onde faltam professores e escolas em condições, e fico-me por aqui. De nada nos vale termos no poder políticos socialistas e social democratas, já que de socialismo e social democracia só sabemos o que é em teoria; na prática quem manda são os grandes oligarcas da nossa economia, como aliás tem sido bem visível desde a queda do Grupo BES, e dos esquemas que foram montados e ainda estão armadilhados para mal dos nossos pecados. JAE.