Opinião | 24-01-2024 21:00

Nos concertos, congressos e assembleias já não há tomates nem ovos podres porque os artistas são todos bons...mesmo os que são maus

Emails do outro mundo

Ledo Serafim das Neves

Ledo Serafim das Neves
A última vez, aqui para os nossos lados, que alguém atirou ovos ou tomates para um palco a fim de mostrar o seu desagrado pela actuação de um artista foi há mais de dez anos. Na altura estava em palco, em Santarém, no Teatro Sá da Bandeira, a então ministra da Agricultura, Assunção Cristas, e um espectador atirou-lhe com um ovo tendo explicado mais tarde que o mesmo estava dentro do prazo de validade.
Na noite de Reis, em Torres Novas, no Teatro Virgínia, lembrei-me desse episódio durante um concerto dos The Gift, no qual o músico e compositor Nuno Gonçalves, perorou abundantemente sobre os tormentos que passou para gerar o último trabalho, Coral, remetendo a vocalista Sónia Tavares, o coro, os músicos e tudo o resto, para segundo plano.
Eu não tinha levado tomates, nem ovos e não sei se alguém tinha ido directamente do supermercado para ali. Seja como for, não havia perigo. Ainda houve um espectador que tentou reeditar a história do Rei vai Nu, afirmando alto e bom som: “Falas, falas, falas mas não cantas nada”, mas nada aconteceu, pelo menos em termos agrícolas.
A interrupção apenas provocou a ira do verdadeiro artista, digamos assim, que mandou pôr o atrevido fora da sala, decisão aplaudida entusiasticamente pelos fiéis. Foi, aliás, a maior ovação da noite provando que, a nível artístico, estamos a viver tempos felizes e cor de rosa.
A nível artístico e a todos os níveis. Na igreja, nas reuniões de trabalho, nos congressos políticos é o mesmo. Não há espaço para desmancha-prazeres, nem para cavernícolas com ovos e tomates podres nos bolsos. Isso é que era bom!!!
Quem não canta a mesma canção e no mesmo tom não entra. E se entra, sai logo a mil à hora, mal abre o bico. Demorámos 50 anos a implementar a liberdade e a democracia, mas conseguimos. Estamos no limiar do céu. Fecham-se as redes sociais, tira-se o som aos telejornais e é o paraíso.
O que parece mais complicado, pelo menos em algumas latitudes, é compreender os boletins das análises da água. Pelo menos é o que pensa a presidente da Câmara de Mirandela que decidiu ensinar os presidentes de junta a fazê-lo.
Aqui pela região não há essa necessidade porque só temos autarcas esclarecidos ou autarcas que não olham para os boletins das análises da água para não ficarem com dores de cabeça.
E alguns nem olham para as análises da água, nem para nada. Basta ir a uma qualquer assembleia municipal em que se discuta um orçamento para o próximo ano, ou outro qualquer assunto que meta números, para perceber que até de olhos fechados eles compreendem aquilo tudo e votam ao mínimo sinal do pastor... perdão, do mandador. E tanto o fazem nas assembleias municipais como na Assembleia da República. Abençoada Pátria que tais cabecinhas tem!!!
Saudações iluminadas
Manuel Serra d’Aire

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