Projectos que ganham asas com eleições à vista, cromos repetidos e bigodes farfalhudos
Insofismável Manuel Serra d’Aire
Insofismável Manuel Serra d’Aire
A partir da passada semana ganhámos um novo conceito na retórica política, aplicável aos casos em que projectos há muito prometidos por quem governa ganham asas em véspera de eleições: chama-se descontaminação. O registo da patente pertence ao primeiro-ministro ainda em funções que, a propósito do lançamento do concurso para o primeiro troço do comboio de alta velocidade entre Lisboa e Porto, na passada semana, disse que o processo tinha estado a marinar tanto tempo porque havia que o descontaminar do debate tóxico que o tinha atingido.
Finalmente está encontrada a explicação para a demora na concretização de uma imensidão de projectos, como o novo aeroporto, a nova ponte na Chamusca, a nova ponte em Abrantes, a conclusão do IC3, o IC10, o IC9, a supressão de passagens de nível na Linha do Norte em Santarém, a variante de Alverca ou a requalificação da EN3 em Azambuja. São todos projectos com barbas mais brancas do que as do José Milhazes e que provavelmente estarão em descontaminação para que, daqui a uns tempos, talvez no Dia de São Nunca à tarde, possam sair do papel. Até lá, vamos esperar sentados que o TGV chegue ao Ribatejo e depois falamos. Isto se o mundo não acabar entretanto…
Tenho acompanhado com alguma curiosidade as listas de candidatos à Assembleia da República pelo distrito de Santarém e não sei bem o que te diga, embora a escolha da AD 2.0 para cabeça-de-lista - o antigo presidente da CAP Eduardo Oliveira e Sousa – me pareça uma conjugação perfeita, e difícil de igualar, dos PSD, CDS e PPM (essa espécie de santíssima trindade da nossa política partidária): é empresário, homem temente a Deus, de tradições e boas famílias, que gosta de ver os toiros na arena. E nem sequer lhe falta aquele patriarcal bigode grisalho aristocrático como imagem de marca. Resta saber se canta o fado, mas presumo que sim...
Tirando o senhor do bigode aristocrático, as listas do PS e do PSD, nos lugares cimeiros, são praticamente repetições das eleições de há dois anos. Os socialistas seguiram a velha máxima do futebol que reza que em equipa que ganha não se mexe, mesmo que a equipa não seja grande coisa e o futebol jogado seja de nível Inatel. Já o PSD, agora travestido de AD e que deu guarida eleitoral aos desvalidos CDS e PPM, optou também pelos seus actuais deputados como recandidatos. Ter um líder distrital chamado João Moura podia ser um trunfo eleitoral para o PSD no Ribatejo de outros tempos, quando havia menos literacia política e o político de Ourém podia ser mais facilmente confundido com o cavaleiro tauromáquico homónimo, ídolo das arenas. Hoje, ter um candidato João Moura não me parece grande trunfo, seja qual for o ângulo de análise. Só espero que não haja confusões e que ninguém o acuse de andar a maltratar animais…
Um bacalhau descontaminado do
Serafim das Neves