Plantar nabos na ponte da Chamusca, assistir aos combates políticos na televisão e pedir fundos comunitários para fazer sambódromos
Chocarreiro Serafim das Neves
Chocarreiro Serafim das Neves
Concordo contigo quando escreves que a decisão de interromper o trânsito na ponte da Chamusca, tomada pelos agricultores com tractores, foi chover no molhado, porque o trânsito na ponte já é tão difícil no dia-a-dia, que nem se notou nada.
Se queriam ter a atenção das televisões e o apoio da população deviam era ter feito o contrário e conseguir que, pelo menos naquele dia, fosse fácil atravessar o Tejo naquele local. Isso é que era! Assim, utilizando a terminologia agrícola, foram uns nabos!
E por falar em nabos, com tantos buracos que o piso da ponte tem, talvez seja altura de ali semear alguma coisa. Com a chuva que tem caído já haveria ali um belo nabal. Aquela ponte não tem sorte nenhuma. Ninguém lhe liga. Nem sequer para tapar buracos. Há muito que devia ter sido classificada como a ponte mais órfã de Portugal!!!
Fiquei entusiasmado com o regresso dos combates entre políticos às televisões, mas o formato, digamos assim, decepcionou-me. Esperava mais criatividade, confesso. Oponentes em equipamentos de luta livre, ou mesmo de boxe, por exemplo. Afinal os homens vão de fato ou de fato e gravata e as senhoras, embora com mais liberdade, também vão demasiado formais.
Os comentadores e os árbitros que dão notas e atribuem as vitórias bem se esforçam por fazer render o peixe, mas não me entusiasmam. Se ninguém, no seu perfeito juízo, espera que algum daqueles atletas, digamos assim, tenha ideias de jeito sobre o que quer que seja, nem acredita na concretização de alguma das promessas que possam fazer porque não os deixam mais à solta. Entretenimento é entretenimento, caramba!
Há dias no supermercado ouvi uma senhora a comentar os penteados e a roupa dos combatentes da noite anterior. Não percebeu nada do que eles disseram e eles não disseram nada das coisas que ela percebe. Estava indecisa em quem votar, mas quase que apostava que vai votar no ou na mais elegante ou no mais bem penteado. Enfim....está melhor que eu, confesso.
Não sei se pelos teus lados a câmara municipal costuma deixar crescer as ervas e flores silvestres nos espaços verdes, bermas de estradas, muros e passeios, mas se deixa, pode não ser por desleixo, mas para alimentar as abelhas e outros insectos polonizadores.
É claro que vão chover protestos do pessoal que quer tudo sem ervas e fotos nos jornais a mostrar as famosas selvas urbanas, mas sem polonização não há a maior parte dos alimentos de origem vegetal. E mesmo quem não come vegetais, optando apenas por uma dieta paleo, só pode ter carne se houver alimento para vacas, porcos, cabritos e esses são todos vegetarianos, digamos assim. Esta coisa de ser ambientalista e querer salvar o planeta, tem os seus custos. E um deles é ter que gramar com as ervas.
Termino com o Carnaval que foi frio e chuvoso, aqui pela serra. Com tantos brasileiros a virem para Portugal, espero que daqui a dois anos, nas eleições autárquicas, apareçam candidatos a propor a construção de sambódromos. E que haja fundos comunitários para os financiar. Se os cientistas tiverem razão em relação às alterações climáticas e ao aquecimento do planeta, bem vamos precisar deles. E de muita alegria para enfrentar as agruras da vida.
Saravá, meu irmão.
Manuel Samba d’Aire