Opinião | 13-03-2024 21:00

Bigodes farfalhudos versus activistas, na Era dos apanhados do clima

Emails do outro mundo

Imparável Manuel Serra d’Aire

Imparável Manuel Serra d’Aire

O ribatejano Eduardo Oliveira e Sousa, portador do bigode mais viçoso e farfalhudo desta campanha eleitoral, deu nas vistas na passada semana e não foi só por causa da bem podada pilosidade supra labial. O cabeça-de-lista da AD por Santarém falou de “falsas razões de ordem climática” que obstaculizam investimentos, opinião que, logo por azar, muita gente actualmente não tolera. Ou, se tolera, tem receio de o proclamar em plena época venatória de caça ao voto, para não molestar as almas mais sensíveis como o enxame de comentadores políticos que se fartou de zurzir no empresário agro-florestal agora candidato a deputado.
O candidato da AD, que até há um ano liderou a poderosa Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e o CNEMA em Santarém, limitou-se a partilhar aquilo que lhe ia na alma e que é sua convicção plena. Dele e de muita outra gente, diga-se. E em seu socorro, num gesto solidário que sugere que as notícias sobre as alterações climáticas são manifestamente exageradas, esteve também São Pedro. Nos dias seguintes às desassombradas declarações de Oliveira e Sousa o santo encarregado das coisas do clima brindou-nos com chuva, vento, frio e neve nas terras altas como que para demonstrar que a tradição ainda é o que era e o Inverno também. Quais alterações climáticas qual carapuça! No Carnaval até esteve a chover, lembram-se?
Nesse comício eleitoral em Ourém, Oliveira e Sousa enfatizou, aliás, que fenómenos climáticos extremos sempre os houve. E também enfatizou muito bem! Esses espíritos mais delicados e picuinhas que tivessem apanhado com uma Era glaciar quando não havia samarras alentejanas, salamandras ou sacos de água quente; ou que se tivessem confrontado com um dilúvio de dimensões bíblicas sem haver coletes salva-vidas, barbatanas e botes de borracha e iam ver o que é bom para a tosse.
Manel, tenho um passado de activista que desconhecia até há relativamente pouco tempo, o que acaba por me reconciliar com a minha juventude azougada e climaticamente irresponsável. Durante anos alimentei a ideia, e os remorsos, de que tinha cometido muitas patifarias e brincadeiras de gosto duvidoso, pelas quais teria que responder no dia do juízo final. Mas entretanto descobri que pouco ou nada me separava dos que hoje são denominados activistas climáticos (e de outras causas) e que gozam até de uma certa simpatia e reputação social, nomeadamente entre a juventude.
A malta hoje faz t(r)inta por uma linha - desde cortar estradas, vandalizar instalações, atirar ovos e tinta a pessoas - e todas essas práticas, a que alguns noutros tempos chamariam vandalismo, delinquência ou arruaça, são hoje manifestações de activismo porque praticadas pelos eufemisticamente designados activistas. Enfim, liberdades semânticas que me ajudam a apaziguar a consciência e a reflectir melhor em quem votar...
Saudações democráticas do
Serafim das Neves

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