Maminhas em vez de bandeirinhas e a prova provada de que só bons alpinistas chegam a secretários de Estado
Laico Serafim das Neves
Por mais que me dissessem que tinha jeitinho para escritor nunca caí na tentação de escrever um livro. E também nunca me passou pela cabeça ser muitas outras coisas para as quais, amigos e família em geral, com destaque para a minha querida mãe, achavam que eu era fadado. E até para ser Papa eles me encontravam qualidades, vê lá tu.
Eu via o que os melhores escreviam, inventavam ou faziam, olhava para mim ao espelho, fazia caretas e ria-me muito da capacidade que me atribuíam de aparentar, sem qualquer esforço, aquilo que não era. Mas nem para actor eu servia, nem sequer para palhaço num qualquer circo de terceira categoria. Achava eu... e estava certo. Ainda estou.
É verdade que, depois do Rui Barreiro ter chegado a secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, no tempo do Sócrates, e do João Moura, autarca de Ourém e chefe do PSD distrital, ter chegado agora a secretário de Estado da Agricultura, qualquer burgesso pode sonhar ir para o Governo, mas nem isso me convence.
Rui Barreiro é licenciado em Engenharia Zootécnica, pela Universidade de Évora e mestre em Economia Agrária e Sociologia Rural. João Moura é licenciado em Engenharia Agro-Pecuária e tem um bacharelato em Produção Animal. Eu sou um nabo ao pé de tais cabeças. E falta-me o requisito principal para tão altas funções: não pertenço ao partido. Nem ao PS, nem ao PSD. Nem fiz doutoramento nas juventudes partidárias.
E em matéria de escrita nem se fala. Barreiro escreveu uma histórica portaria a autorizar a caça ao melro. Moura deslocou o pulso várias vezes a escrever perguntas e mais perguntas ao Governo quando era deputado perguntador, digamos assim. Eu só escrevinhei umas quadras de pé quebrado à minha namorada da escola secundária, e estes e-mails, no “português de quatrocentas calhoadas ao minuto”, de que falava o Fernando Assis Pacheco.
Voltamos a ter a bandeira nacional completa nos sites e documentos do Governo e, principalmente, na decoração das conferências de imprensa dos governantes em vez de um logótipo com verde, vermelho e uma bola amarela ao centro. Eu nem tinha reparado na diferença se não tivessem falado no assunto, nos jornais e televisões. É por isso que é tão importante andarmos bem informados.
Seja como for, nem a representação com a bolinha amarela ao centro, nem a bandeira completa com a tralha histórica toda entre o verde e vermelho, me satisfazem. Que saudades tenho daquele antigo postal ilustrado que assinalava a implantação da República com uma moça de maminhas ao léu e com a bandeira ao ombro.
Se era para respeitar a tradição e exaltar os valores pátrios, digamos assim, que a metessem então nos documentos oficiais. Fosse qual fosse a informação oficial seria sempre bem recebida...mesmo que fosse das finanças para pagar um imposto, ou da polícia para pagar uma multa.
Saudações desinibidas
Manuel Serra d’Aire