Nas bodas de prata destes e-mails do outro mundo é bom lembrar que ainda há quem continue a chupar as tetas frescas da manada
Desancador Serafim das Neves
Desancador Serafim das Neves
Cada um tem a sua ideia, ou ideias, sobre o 25 de Abril de 1974. E pode proclamá-la, ou proclamá-las, como entender. No nosso caso, uma das tais conquistas de que falam os mais entusiastas da data, é podermos escrever o que temos escrito ao longo dos últimos 25 anos, aqui nestes e-mails do outro mundo, sem termos sido presos por delito de opinião, como aconteceria no tempo da outra senhora. A tal da ditadura, ou da dentadura, como diriam os que eram ferrados por ela.
Lembro-me que já tinha passado um quarto de século desde a instauração da democracia e da liberdade de imprensa e ainda havia quem tentasse calar este nosso desaforo. E agora, que já lá vai meio século, a coisa continua. As notícias demoram muito tempo a chegar e ainda há alguns despassarados, chamemos-lhe assim, que não sabem que, a seguir à revolução, fecharam os tribunais plenários, onde se condenavam os que tinham ideias contrárias às de quem mandava e os que se armavam em engraçadinhos, como nós.
Entre esses patetas mal informados, é de justiça, digamos assim, destacar o tal Rui Barreiro, que reintroduziu a caça ao melro quando foi secretário de Estado, acto que, só por si, já lhe dava lugar na pequena história, como pândego de alto coturno.
Achou ele, entusiasmado com os vapores do poder, que ainda era crime termos escrito que, quando o víramos nos cartazes de campanha eleitoral com uns exuberantes suspensórios encarnados, tínhamos logo pensado que ali havia merda no restolho.
O Tribunal, que já não era plenário, não lhe deu razão e o que me ficou na memória foi a advogada do tomba-lobos, ter lido durante o julgamento, vezes sem conta, os nossos e-mails, “mal e porcamente”, como diria a minha avó materna...e com uma voz de “cana rachada”, expressão que ela também usava, para mimosear quem lhe eriçava os pêlos dos tímpanos.
Serafim, esta nossa troca de e-mails começou a 7 de Abril de 1999. Se fosse casamento estávamos a celebrar as bodas de prata. Vinte e cinco anos a obsequiar as pérolas intelectuais e acções desmioladas e estapafúrdias, de trogloditas, cavernícolas e brugessos em geral que, graças ao elevador partidário, às benesses do Estado e às falhas na fiscalização dos fundos comunitários, flutuam em cargos políticos e lugares na administração pública e nadam em dinheiro.
De vez em quando, aqui nas páginas do jornal, há pessoas a dizer que gostam muito de “respeitinho”, imaginando que estão a referir-se a um inocente diminutivo do substantivo respeito. E também há quem considere que pagar cinco ou dez euros, por mil litros de água potável, entregue em nossa casa através das torneiras, vinte e quatro horas por dia, é uma roubalheira.
Almas simples, convenhamos, que também aceitam com bonomia e sem sobressalto, que estão a beneficiar de uma grande promoção comercial, quando lhes cobram um euro por um quarto de litro de água no café, no restaurante ou na máquina de bebidas.
Quando a câmara de Salvaterra de Magos, como dizes, sugere aos cidadãos que, se querem passeios os devem construir, está a mostrar-nos o futuro. Se os nossos filhos não vão para calceteiros e se não queremos cá estrangeiros pouco qualificados, teremos mesmo que recorrer ao tal sistema do faça você mesmo.
Saudações libertinárias
Manuel Serra d’Aire