Opinião | 08-05-2024 21:00

Nos 50 anos do 25 de Abril também se cantou o “Oh tempo volta para trás”

Emails do outro mundo

Zombeteiro Manuel Serra d’Aire

Zombeteiro Manuel Serra d’Aire
Obrigado por me recordares que já andamos há 25 anos nisto. 25 anos é muito tempo num casamento, quanto mais numa troca de correspondência. Para os mais jovens ou desatentos terem uma ideia de quão antiga é esta brincadeira, quando isto começou ainda não havia localização definida para o novo aeroporto de Lisboa; ainda não havia nova ponte sobre o Tejo na Chamusca; nem tão pouco o famoso TGV. Hoje continua a não haver, mas isso já é outro assunto... É por isso que continuamos a zurzir em certos figurões, “doutores na asneira, na ciência burros”, como escreveu Bocage, poeta com tomates como poucos.
Mas alguma coisa teve de mudar ao longo deste tempo para que tudo ficasse na mesma. E uma das novidades foi o aparecimento de uma agremiação partidária chamada Chega, uma confederação que agrega descontentes, ressabiados, oportunistas e alguns saudosistas do Estado Novo, entre outros portugueses de bem, liderados por um antigo comentador da bola com paleio para dar e vender.
Pois bem, um autarca do Chega na Assembleia Municipal de Benavente quis dar nas vistas na cerimónia oficial dos 50 anos do 25 de Abril, destoando das outras intervenções, elogiando o 25 de Novembro de 1975 (outra data importante da nossa História contemporânea, sim, mas que nada exclui a que lhe deu origem) e dizendo que “continuamos iguais ou piores” do que estávamos nos tempos da outra senhora.
Provavelmente muita gente pouco condescendente vai dizer que o eleito do Chega é um populista e demagogo. O que até poderá ser verdade. Mas tenho de concordar com a sua apreciação, pelo menos na parte que lhe toca, mesmo que ele seja apenas a excepção que confirma a regra: o autarca do Chega de Benavente que discursou no 25 de Abril é realmente um bom exemplo do que continua “igual ou pior”, se comparado com os autarcas do antigo regime. A única diferença mesmo é ter sido eleito em sufrágio universal, em que, veja-se o atrevimento deste novo regime, até as mulheres e os analfabetos podem pôr a cruzinha no boletim. Cruzes canhoto!!!
Se esse tal eleito do, Chega de Benavente, nos tempos do por muitos ainda hoje venerado Santo António de Oliveira Salazar, tivesse tido oportunidade de discursar numa cerimónia comemorativa do 28 de Maio de 1926 e expressasse ideias contrárias às do regime vigente, ficaria com certeza a conhecer estâncias turísticas como Caxias, Peniche ou Aljube. Hoje, porque “continuamos iguais ou piores”, o máximo que lhe aconteceu foi chamarem-lhe fascista, rótulo de que não será porventura merecedor. Ignorante e descarado talvez lhe assentassem melhor.
A culpa, tenho de concordar mais uma vez, é do 25 de Abril e até, se se quiser, do 25 de Novembro. Velhos tempos em que a garbosa juventude lusitana podia rasgar novos horizontes e conhecer, a expensas do Estado, as luxuriantes selvas e savanas da Guiné, Angola ou Moçambique. Aí nem continuamos iguais, estamos mesmo muito piores. Já não há estadias prolongadas em África à conta do orçamento, com pensão completa; e até o caixão pago, caso a digressão corresse mal. É realmente uma vergonha!
Um abraço revolucionário do
Serafim das Neves

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