Não se deve brincar aos aeroportos nem com os ócios do ofício num país que vive do turismo
Afamado Manuel Serra d’Aire
Afamado Manuel Serra d’Aire
Conta com a minha total solidariedade em relação aos feriados. Também sou dos que defendem que temos mais fama do que proveito quanto ao número de feriados que gozamos e não me esqueço da azia que o Passos Coelho me causou quando o então primeiro-ministro nos roubou provisoriamente alguns dias de descanso durante a estadia da troika, para mostrar a quem nos emprestou dinheiro que aqui não se brinca em serviço. É por isso que também concordo que sejam instituídos feriados no Dia da Europa, no 25 de Novembro (finalmente concordo com o Chega), no 11 de Março, no 28 de Setembro, no 13 de Maio, no dia do meu aniversário e sempre que o Sporting seja campeão.
Quem descortina nesta opinião um crime lesa-pátria ou uma expressão de pouca vontade de vergar a mola está a avaliar mal as coisas. É precisamente o contrário. Somos um país que vive sobretudo do turismo, há milhares e milhares de empregos nesse sector, por isso quanto mais tempo tivermos livre mais podemos andar na rambóia, a viajar, a comer fora, a beber copos em esplanadas e bares, a assistir a espectáculos e a participar em eventos. E tudo isso se traduz em números, em riqueza. Salazar dizia que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses. Hoje, já não é só o beber vinho, cerveja ou outro líquido qualquer. Hoje é também comer, passear, dormir e tudo o que se pode fazer de bom nos tempos livres. Tudo isso dá de comer a um milhão (ou mais) de portugueses. Por isso, não se deve brincar com os ócios do ofício.
Quem também devia instituir um novo feriado é o município de Benavente, depois de ter sido anunciado o Campo de Tiro da Força Aérea, na freguesia de Samora Correia, como local para construir o novo aeroporto de Lisboa. Foi no dia 14 de Maio que o primeiro-ministro Luís Montenegro teve essa visão e a anunciou ao mundo e eu, se fosse o presidente da Câmara de Benavente, celebrava já essa data no próximo ano com um feriado municipal e uma romaria ao campo de tiro onde vaticinam que a obra vai nascer. Se o aeroporto nunca chegar a aterrar por aquelas bandas, pelo menos ficam com mais um dia-santo para festejar; um brinde no calendário que os autarcas da Ota ou do Montijo não souberam noutros tempos precaver, quando também figuraram como putativas localizações para o tal aeroporto.
Com menos razões para sorrir deveria estar o presidente da Câmara de Santarém, pois a localização do aeroporto no seu concelho parece ter sido descartada pelo Governo. No entanto, manda a sabedoria, a memória e o bom senso que não atire já a toalha ao chão. Nem ele nem ninguém neste país. Entre o descolar e o aterrar vai uma longa distância e este atribulado voo de longo curso do novo aeroporto já se despenhou várias vezes. Se cair mais uma vez alguém vai ficar surpreendido?
Saudações aeronáuticas do
Serafim das Neves