Opinião | 13-06-2024 07:00

O PCP mete dó

Meio século depois do 25 de Abril o PCP mete dó. É triste ver os seus dirigentes mais jovens do lado de Putin, o político mais perigoso depois de Hitler.

É minha convicção que nestes 50 anos de democracia quase todos nós votámos no PCP ou na coligação em que o partido se esconde, ou simplesmente se refugia, e, ou aplaudimos algumas das suas decisões políticas que contrariavam a mediocridade da nossa vida política. Certamente a maioria das nossas simpatias ficou a dever-se mais às segundas figuras do partido que aos seus secretários-gerais, com excepção de Álvaro Cunhal, que era um intelectual capaz de nos convencer de alguns dos seus argumentos, e de nos desafiar sem argumentos a lermos os seus livros, que assinava com o pseudónimo de Manuel Tiago. Havia gente muito boa no PCP que nos chamava para o seu lado, fisicamente e espiritualmente, que encarnava tudo aquilo que quase todos nós esperávamos das conquistas do 25 de Abril. E não era difícil escolher entre a esquerda e a direita, aqueles que se identificavam com a classe mais desprotegida e os outros, todos os outros, que viviam mais desafogadamente, embora a grande maioria dos portugueses continue a viver no limiar da subsistência, incluindo a pequena burguesia.
Meio século depois da revolução, o PCP mete dó. E não é só por estar remetido a uns insignificantes 4% por cento do eleitorado português. Mete dó porque é uma organização que consegue pôr os seus dirigentes mais jovens do lado de Putin, a favor de Putin, o líder político mais perigoso do mundo depois de Hitler. A grande maioria de nós, da esquerda à direita, não tem dúvidas que esta democracia em que vivemos está cheia de defeitos, de socialistas e social democratas vendidos ao capitalismo selvagem, de chefes de gabinetes com estantes do Ikea cheias de notas de cem euros escondidas em livros, mas nada disso nos pode desiludir, o caminho nunca será voltar ao tempo da pedra lascada nem ao tempo dos Czares ou dos Donos Disto Tudo. Foi triste ver e ouvir na campanha eleitoral para as europeias os novos dirigentes do PCP reconhecerem finalmente que a invasão da Ucrânia é crime, mas que a culpa é dos países do Ocidente e dos EUA. Putin é uma vaca sagrada para os comunistas portugueses, embora todos saibamos que, tal como Trump nos EUA, se preparou a vida inteira para ser o que é hoje: um ditador que manda matar os seus adversários políticos (os que têm coragem de dar o corpo às balas) e fecha as fronteiras para não ser escrutinado pela comunidade internacional para poder cumprir o seu objectivo de vida; refundar a antiga União Soviética alastrando a guerra que começou na Ucrânia.
Não deixo de me questionar se com esta crónica não estou a gastar cera com defuntos; talvez; o PCP mete dó porque por este caminho jamais se regenera e volta a ser o partido com paredes de vidro e a referência daqueles que acreditam nos ideais de uma sociedade mais justa e solidária. Quem não confia na sociedade capitalista, na privatização das empresas públicas aos empresários sem rosto escondidos em grandes empresas, jamais dormirá descansado se tiver como lema de vida o exercício da cidadania e a defesa dos mais desprotegidos. JAE

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