Opinião | 19-06-2024 21:00

A Disneylândia do CNEMA no país dos poetas em que quem tem um olho é o rei

Emails do outro mundo

Patriótico Manuel Serra d’Aire

Patriótico Manuel Serra d’Aire

Está a decorrer mais uma Feira de Agricultura em Santarém, que noutros tempos foi conhecida como Feira do Ribatejo mas que entretanto se transformou numa espécie de Disneylândia, com diversões, muita música, barraquinhas de fastfood e vendedores de tudo e mais alguma coisa, de colchões a vestuário e mobiliário, com exposições de tractores e gado para compor o ramalhete e justificar a designação. Mas não é por isso que comparei a feira escalabitana à Disneylândia, embora não faltem por lá também patos e patetas. Um casal amigo contou-me a experiência da sua visita ao evento e o trauma que sofreu quando lhes foi pedido 4 euros por um pastel de bacalhau um pouquinho maior do que o tamanho habitual e 2 euros por uma imperial das pequenas, que se bebe em duas goladas, mais o copo que custa 2 euros.
Foi essa dupla de incautos que me disse que, de repente, sentiu-se transportada para a Disneylândia de Paris e que mesmo sem andar em montanhas russas se sentiu zonza pelo rombo no orçamento. Faz por isso todo o sentido que a Câmara de Santarém tenha decidido atribuir este ano a Medalha de Ouro do Município ao CNEMA, entidade que organiza a feira. Porque ali tudo se paga a peso de ouro...
Passámos mais um 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. E por falar em Camões - figura insigne da poesia lusitana que faz jus à expressão popular, por mim adaptada, que em terra de poetas quem tem um olho é o rei -, celebram-se este ano 500 anos sobre o suposto nascimento do vate (não confundir com a marca de whisky que acaba em 69). E digo suposto nascimento porque ninguém sabe ao certo quando nasceu e quando morreu Camões. O que não é de admirar, tendo em conta que naqueles tempos não havia registo civil nem Serviço Nacional de Saúde. Celebremos pois o bardo que escreveu os Lusíadas, embora o país se esteja bem a marimbar para o poeta, para a poesia e para a literatura em geral que não seja a reproduzida nas caixas de comentários e nas redes sociais. Talvez seja por isso que a Casa-Memória de Camões existente em Constância só abre meia dúzia de dias por ano. Não vale a pena gastar dinheiro com electricidade e funcionários para ter aquilo às moscas.
Falei do poeta quinhentista pois ele encaixa bem no espírito das geminações feitas por muitos dos nossos municípios noutros tempos, pois hoje estão mais comedidos. Tal como os autarcas e muita gente, também Camões se pelava por viajar e correu mundo para além da Taprobana. Em Santarém, como bem mencionaste, a época de ouro dos descobrimentos de outras paragens pelo séquito autárquico já lá vai há muito tempo. Mas recordo-me de ouvir falar das viagens a pontos paradisíacos da costa brasileira e também de um célebre protocolo com o Jockey Clube de São Paulo, este já nos tempos do presidente-escritor-comentador-criminologista que antecedeu o actual presiudente, que acabou por não dar em nada. Quer dizer, dar até deu, porque sempre se aproveitaram as viagens...
Um adeus português do
Serafim das Neves

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