Opinião | 26-06-2024 15:00

Quem pode falar em desertificação e seca extrema, se as festas das aldeias estão à pinha e as torneiras continuam a deitar água?

Emails do outro mundo

Arguto Serafim das Neves

Arguto Serafim das Neves
A vila de Benfica do Ribatejo, no concelho de Almeirim, está a revelar uma extraordinária capacidade de atracção de lisboetas. A câmara municipal diz que o crescimento é evidente e fala no surgimento de cento e cinquenta novas casas, confirmando que a terra parece ter mel.
Há pessoas de Lisboa, de Cascais e de outras zonas urbanas que afirmam terem vendido tudo para se instalarem ali, no meio do campo, a ouvir o pipilar dos passarinhos e o rumorejar da água nos regatos e do vento nas árvores.
Benfica do Ribatejo tem vindo a perder população desde 1991, o que é excelente para quem não quer ter vizinhos a chatear. Mas essa tranquilidade pode acabar quando se propagar a notícia da existência daquele paraíso.
A prever isso, a câmara de Almeirim já começou a trabalhar para manter a qualidade de vida do povo e preservar os habitats de formigas, lagartixas, coelhos e melros. Para isso vai correr com todos os inoportunos invasores, deitando-lhes as casas abaixo, por estarem em zona de Reserva Agrícola Nacional ou Reserva Ecológica Nacional.
E o presidente da Câmara, Pedro Ribeiro, tem sido eficaz nessa actividade, desde os tempos em que, ainda como vice-presidente, já deitava abaixo casas de ciganos. Se o tribunal vier a confirmar a autorização de demolição das casas de Benfica do Ribatejo, o autarca dará também resposta aos que o acusavam de anti-ciganismo e racismo. Afinal, tanto são corridos os ciganos, como os brancos de Cascais... ou os nepaleses e indianos, que também por ali andaram a fazer-se ao piso, como se costuma dizer.
Almeirim é dos almeirinenses e Benfica do Ribatejo é dos benfiquenses, assim como o Entroncamento, por exemplo, é dos entroncamentenses, como proclamam alto e bom som, os autarcas do PSD e do Chega naquele concelho, perante a chegada de pessoas de cinquenta nacionalidades diferentes. Já bastou o que bastou com a chegada de pessoas de todo o lado, quando aquilo era apenas um olival.
E que ninguém venha com a cantiga da desertificação, porque pessoas é o que não falta. Basta ir às festas de Verão para ver que até há gente a mais. Eu que o diga, que passo tormentos para arranjar uma mesa para comer um petisco com a família e estou sempre a levar encontrões quando ando a ver as barraquinhas do artesanato e da quermesse. Cambada de alarmistas!!
São os da desertificação e os do clima, com as tretas dos aumentos da temperatura e da escassez de água. Como diria um dos tais autarcas da terra dos fenómenos: Façam como eu, que ligo o ar condicionado quando sinto calor e basta-me abrir a torneira para ter toda a água que quero.
Não termino sem deixar uma mensagem para eventuais maldizentes que, a propósito da ilegalidade das casas de Benfica do Ribatejo, venham lembrar que há 15 anos, também no concelho de Almeirim, em Paços dos Negros, foram desafectados 42 hectares de terrenos da Reserva Agrícola e Ecológica, para a construção (que acabou por não avançar) de um condomínio fechado, chamemos-lhe assim, com capacidade para 900 reclusos, e arrancados todos os sobreiros que por lá havia, não lhes valendo de nada serem árvores protegidas. Pois bem, uma coisa é o interesse público e outra é o interesse do público. Perceberam?!
Saudações agro ecológicas
Manuel Serra d’Aire

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