Dia D
A paz não pode existir a qualquer preço. A célebre frase de Sun Tzu que “A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”, é muitas vezes uma utopia. Existem valores em que o combate pelos mesmos tem de ir até ao fim. A liberdade é um deles.
Em vez de alvitrar sobre um de tantos casos efervescentes que estruturam e formam a espuma dos dias e onde as palavras escritas se esfumam com a primeira rabanada de vento, desta vez quero antes escrever sobre o dia 6 de Junho de 1944.
Nesse dia milhares de jovens deram a sua vida pela ideia de liberdade na Europa e, por maioria de razão, pela ideia de liberdade no mundo. Foi o célebre dia D, primeiro dia da batalha da Normandia. Acontecimento que, ao invés do que possa parecer, tem tudo a ver connosco.
O desembarque nas praias da Normandia dos exércitos aliados, constituiu a maior invasão anfíbia da história militar. Os números variam: cerca de 156.000 soldados dos Estados Unidos, da Comunidade Britânica e dos seus aliados desembarcaram nas praias francesas da Normandia. Daqueles, 4 400 pereceram logo nesse dia 6 de Junho.
No final de Junho, 850 000 soldados aliados já tinham desembarcado no norte de França.
Entre 6 de Junho e final de Agosto de 1944, perderam a vida 30. 796 soldados americanos, 11.000 ingleses e 6.000 canadianos.
Imagine-se o estado de espírito daqueles milhares de jovens nos momentos que antecederam o desembarque, comprimidos nas embarcações que os conduziam para as praias normandas. Ou daqueles outros que saltavam de paraquedas num céu repleto de fogo inimigo. Ensimesmados nas orações murmuradas com uma derradeira mirada para o céu, a ansiedade e a angústia, os pensamentos nos familiares próximos, os suores frios que lhes trespassaram as almas e, claro, a incerteza da sobrevivência.
Com excepção dos ingleses e de alguns franceses - que lutavam pela sua sobrevivência como nação -, americanos e canadianos atravessaram o Atlântico para morrerem longe das suas casas.
Eram, todos eles, jovens grávidos de esperança numa vida feliz, que abandonaram os seus projectos de vida individuais – namorar, casar, filhos, trabalho -, para morrerem, literalmente, numa terra estranha, que não era a deles, em nome de uma ideia de liberdade.
Não obstante, se não tivessem lutado, se muitos milhares não tivessem morrido, hoje a Europa seria bem diferente e a liberdade seria uma palavra proibida.
Devemos muito do nosso conforto e da nossa liberdade – sim, também o do Portugal “ocidental”, democrático e liberal – a todos aqueles que morreram nesse longínquo dia 6 de Junho de 1944.
Presto-lhes a minha sentida homenagem e inclino-me respeitosamente - sinal do penhor da minha profunda gratidão -, pela doação total das suas vidas.
Sim, a paz não pode existir a qualquer preço.
A frase célebre de Sun Tzu que “A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”, é muitas vezes uma utopia. Existem valores em que o combate pelos mesmos tem de ir até ao fim. A liberdade é um deles.
Questiono-me se nesta velha Europa e neste Portugal alquebrado, ainda existe essa capacidade de morrer por algo maior do que nós - que não seja apenas a nossa vidinha -, de lutar pela felicidade de outros, mesmo que exista “um oceano que nos separe”. De lutar pela grandeza da generosidade, em detrimento da mediocridade da cobardia.
Se seríamos ainda capazes de morrer – sim, de morrer - por uma causa longínqua, ou mesmo apenas e tão só, aqui por nós, por uma ideia de Portugal. Questiono se ainda somos suficientemente generosos para ser felizes.
Com todos os seus defeitos, o que fez da América e do Canadá aquilo que são hoje, é a imensa capacidade de sonharem, de lutarem e de morrerem pelas utopias em que acreditam.
Nós, infelizmente, apenas sonhamos verdadeiramente quando joga a selecção de futebol. Que tacanhez e que tristeza.
P.N.Pimenta Braz