Opinião | 03-07-2024 12:00

Como cativar públicos pelo estômago ou o milagre da multiplicação das sardinhas e do tintol

Emails do outro mundo

Tenaz Manuel Serra d’Aire

Tenaz Manuel Serra d’Aire
A população do Bom Sucesso, um povoado junto a Alverca, alheou-se diplomaticamente da discussão e formalização do processo de elevação desse lugar a vila. A assembleia de freguesia reuniu para dar a sua bênção à promoção do Bom Sucesso no estatuto das localidades e até disponibilizou cadeiras para a assistência, na expectativa de que o tema trouxesse um magote de gente do Bom Sucesso para testemunhar e aplaudir a solenidade do momento. Acontece que, vá lá saber-se porquê, não apareceu um único plebeu do Bom Sucesso para ver, ouvir e, caso lhe apetecesse, dizer alguma coisa sobre tão fantástico assunto.
Dias depois, numa conferência em Santarém promovida pela SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social discutiu-se o presente e o futuro o distrito de Santarém e perspectivas de desenvolvimento. Nessa sessão, mais do que a plebe, quem fez gazeta foi a aristocracia autárquica já que, pelo relatado, dos presidentes de câmara da região só lá esteve o da casa. Se calhar, porque dava demasiado nas vistas baldar-se. E deputados nem vê-los… Se esse momento funcionasse como um barómetro para avaliar o nível de entusiasmo que existe por parte da nossa classe política para debater os assuntos desta região, ficaríamos esclarecidos. Mas temos de dar o desconto. Os convites podem não ter chegado a tempo; nesse dia começava o Verão e a malta estava toda para Stonehenge a festejar o solstício; ou então, simplesmente, preferiram ficar a ver a bola. E se os políticos gostam de bola e de tudo o que a rodeia…
Entretanto, muitas festas da região mantêm a generosa tradição de oferecer sardinhas, pão e vinho a quem as visita. Nesses dias a população multiplica-se como coelhos, com gente às centenas e aos milhares pelas ruas em redor dos fogareiros, como formigas de volta dos açucareiros. O factor sardinha aliado à gratuitidade produz milagres de multiplicação famosos já desde tempos bíblicos e se os organizadores de determinadas iniciativas mais enfadonhas tivessem atenção a esse fenómeno evitariam algumas vergonhas. Prometessem eles sardinhada à borla no programa e iam ver como tinham sempre lotação esgotada.
E quem diz sardinha assada diz porco no espeto, embora este tenha caído em desuso nos últimos anos, para desgosto dos amantes de petiscos à bola. Ainda me recordo dos gloriosos tempos em que Moita Flores oferecia promessas eleitorais, cantorias do Quim Barreiros e repastos de reco assado, num autêntico bodo aos pobres, neste caso aos potenciais eleitores escalabitanos. Não havia festa de campanha que não se enchesse de gente ávida de deglutir a mensagem política ali servida. A coisa atingiu tais proporções que, algum tempo depois, os sistemas digestivos mais sensíveis já começavam a dar sinais de enfartamento, quando não de cólicas e outras maleitas gástricas. Isto para dizer que se não há fome que não dê em fartura, também não há fartura que não possa acabar em arroto e regurgitação.
Cumprimentos sanjoaninos do
Serafim das Neves

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