Opinião | 11-07-2024 07:00

A ocupação do espaço público com publicidade e a selvajaria do costume

As rotundas são perigosas sem cartazes gigantescos quanto mais entrincheiradas. As entradas das cidades deviam ser o seu cartão de visita, mas não são: estão cheias de cartazes dos políticos, alguns muito mentirosos, a venderem o peixe estragado que somos obrigados a consumir.

As perguntas em Tomar, em jeito de protesto, pela ocupação do espaço público com cartazes, gigantes, grandes e pequenos, é tão pertinente nos dias de hoje como discutir saúde pública e a poluição do rio Nabão. Os carros inteligentes em circulação apagam a luz do ecrã quando passam por lugares mal iluminados para não prejudicarem a condução. Em certas cidades já há cartazes dez vezes mais luminosos que a luz da rua. Cada vez que levo com um desses em cima assusto-me. Por enquanto não chegaram a Tomar. Mas estão lá os outros todos que contrariam a política contra a poluição ambiental e visual, a arquitectura das casas, a cor e a beleza da paisagem e dos seus edifícios, a classificação histórica da cidade e dos seus monumentos. Não falo só dos cartazes, falo também da publicidade pirata colada de forma criminosa nos equipamentos públicos, degradando-os e provando que a selvajaria compensa. Se alguém pode colar um cartaz num equipamento público porque é que esse alguém não pode mijar também para um cantinho da parede ou deitar para o chão a beata do cigarro?
Há partidos políticos que fazem campanhas soberbas com ideias espectaculares, mas não está provado que a mensagem ganha votos. Os cartazes do PAN, do LIVRE e da Iniciativa Liberal são um bom exemplo. Se o crescimento eleitoral fosse à medida da criatividade e do número de cartazes estávamos a ser governados por outra gente. Os cartazes do PS e do PSD são grandes charutos, mas levamos com eles em cima como se os partidos políticos fossem donos da paisagem com direitos adquiridos sobre os nossos horizontes. Tudo isto à porta da nossa casa, e no coração das cidades, fazendo das rotundas praças de touros em que os cartazes são as trincheiras.
Há uma indústria poderosa por trás deste negócio da publicidade exterior. Algumas empresas sustentam-se nos milhões que facturam com os partidos políticos do nosso regime democrático que recebem dinheiro fácil proporcionado pelo número de votantes. Não é por acaso que têm o descaramento de cometerem os crimes contra a paisagem e de ultrapassarem todas as regras do bom senso, da educação cidadã, das boas práticas na relação com os 10 milhões de portugueses.
Há um dado importante com que gostava de fechar esta crónica. António Costa cativou o dinheiro do Estado e dos organismos que dependem do Estado e não deixou que nos últimos anos os vitivinicultores fizessem promoção paga aos vinhos portugueses. Este é só um exemplo de como o rei vai nu. O governo cativou os dinheiros dos pequenos produtores de uma economia que sustenta, na sua maioria, pequenos produtores, e, entretanto, vende as barragens aos chineses, ou seja, vende o ouro ao bandido e ainda recebe como prémio um emprego na capital da Europa como se fosse o nosso Nelson Mandela.
Portugal é um filme de terror se tivermos em conta as más políticas de proximidade que fazem toda a diferença na qualidade de vida dos cidadãos. Menos política e mais cidadania… precisam-se. Chega de nos tratarem como jumentos.
É evidente que as autarquias têm um papel fundamental no governo do espaço público. As rotundas são perigosas sem cartazes gigantescos quanto mais entrincheiradas. As entradas das cidades deviam ser o seu cartão de visita, mas não são: estão cheias de cartazes dos políticos, alguns muito mentirosos, a venderem o peixe estragado que somos obrigados a consumir. JAE.

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