Opinião | 17-07-2024 21:00

O potencial turístico das obras de Santa Engrácia e o aluguer de vacas como estímulo à economia local

Emails do outro mundo

Inconfundível Manuel Serra d’Aire

Inconfundível Manuel Serra d’Aire
Portugal e os portugueses são reconhecidos por esse mundo por diversos atributos, uns mais justos ou exagerados que outros, mas se há coisa em que somos realmente bons é nas chamadas obras de Santa Engrácia. Ou seja naquelas empreitadas que se arrastam durante anos ou décadas e que ganham esse rótulo popular precisamente graças à Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, onde após muitos anos, em meados do século passado, lá conseguiram concluir as obras e ali instalar o Panteão Nacional. Quem tem especial prazer em ver uma obra arrastar-se no tempo, então que fale connosco. Eu, por exemplo, ando para acabar de pintar um quarto há volta de três anos.
Pelo Ribatejo também temos as nossas obras de Santa Engrácia que bem poderiam dar um roteiro turístico, assim houvesse imaginação e arrojo. O presidente da Câmara da Chamusca, por exemplo, podia fazer visitas guiadas às obras das piscinas municipais, para explicar aos embasbacados turistas, com a sagacidade que o caracteriza, como é que se conseguem gastar cinco anos (até agora!) e não se ver jeito daquilo estar pronto. É uma espécie de versão ribatejana da Sagrada Família de Barcelona no que toca a encanar a perna à rã, mas sem pináculos de catedral. O rótulo de Santa Engrácia assenta-lhe que nem uma luva, tal como a outras obras, como as das Igrejas de Santa Iria e São João do Alporão, em Santarém. Nem os patronos milagreiros lhes valem.
Depois, temos aquelas obras que nunca chegaram a começar e que poderiam ser apelidadas de Obras de São Nunca. O famigerado IC3 entre Almeirim e Barquinha ou as novas pontes sobre o Tejo na zona da Chamusca e de Abrantes são algumas das que ainda vão dando que falar, porque a malta é teimosa e ainda acredita no Pai Natal. Mais depressa estão as obras das piscinas da Chamusca acabadas do que essas a arrancar...
Estamos no Verão e quase todos os municípios se esfalfam a organizar festas e romarias, numa compita desenfreada para contratar artistas de nomeada que atraiam multidões. E digo quase todos porque, tal como nas histórias de Astérix e Obélix, em que uma irredutível aldeia gaulesa resistia à ocupação romana, também aqui pelo Ribatejo há quem resista ao avanço das modas. Falo do presidente da Câmara de Almeirim, o socialista Pedro Ribeiro, que já disse publicamente que não gasta balúrdios em artistas para festas quando lhe chegam os ranchos folclóricos e músicos da zona para ter animação garantida.
O autarca é um adepto da prata da casa e prefere, por exemplo, gastar 9 mil euros no aluguer de vacas para as picarias, como aconteceu este ano. Uma manifestação inequívoca de estímulo à economia local, porque as vacas são da região e a mais valia do seu aluguer fica por cá. Se as vacas fossem de fora, não seria obviamente a mesma coisa. “O que é local é bom!” poderia ser o lema da estratégia política do autarca de Almeirim. Por isso é que ele não troca o seu concelho por nada deste mundo e até admite poder ser presidente de uma junta de freguesia, quando acabar o mandato na câmara. É bom ver que ainda há gente assim, agarrada às raízes...
Saudações calorosas do
Serafim das Neves

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