Kamala e a Era Feminina
Ana Miranda dedicou uma crônica a Kamala Harris no Diário do Noroeste de 23 de Agosto de 2020 quando foi nomeada vice-presidente do presidente Joe Biden caso ele ganhasse a presidência. Por favor, leia, é uma revelação sobre quem ela é e de onde ela vem e especialmente para onde KAMALA está indo agora.Uma previsão inacreditável, muito positiva!!
Seu nome vem do sânscrito, kamalã, ou flor de lótus. Uns dizem Kâmala, outros, Kamála, o certo é que Kamala Harris veio para marcar um tempo. O mundo está fascinado por Kamala, por todo lado falam em Kamala, há algo de atrativo em sua figura e no que ela simboliza. Filha de uma indiana e um jamaicano, Kamala é o novo mapa do povo americano, uma nova demografia de misturas étnicas.
Seu pai era um notável estudante que passou a viver na Califórnia desde quando foi admitido para estudar economia em Berkeley. Hoje é professor em Stanford. Sua mãe, Shyamala Gopalan, do sul da Índia, foi fazer doutorado em nutrição, tornando-se depois pesquisadora do câncer de mama. Eles se encontraram num círculo de movimentos civis da universidade. O casal separou-se quando Kamala tinha cinco anos. Kamala e sua irmã, com a mãe, viviam numa comunidade afro-americana que ensinava muito sobre as lutas por direitos. Quando iam visitar o pai, num bairro de brancos, as meninas não se aproximavam delas. Kamala conta histórias comoventes de sua infância, quando estudava em escolas brancas, e ia todos os dias no ônibus que fazia parte de um projeto de aproximação.
A inusitada mistura étnica resultou num rosto bonito, forte, com olhos vivazes. Pequenina - tem pouco mais de um metro e meio -, elegante, com um colar de pérolas, sorriso aberto, sincera, a sua aparência não mostra de imediato a dureza de sua experiência e personalidade. Como procuradora Kamala lidou com crimes violentos, encarceramento, taxas de condenação, com as condições das prisões, crimes financeiros, cuidou da má conduta de procuradores de condados e enfrentou poderosas empresas de petróleo e gás.
Ativista desde o berço, atuou contra crimes de ódio, sobretudo os cometidos contra crianças e adolescentes. Fez um programa social bem sucedido para recuperar traficantes, foi favorável à universidade e à saúde gratuitas. Mesmo tida como uma espécie de policial durona, enfureceu a corporação ao negar a pena de morte para o assassino de um policial. Combateu banqueiros, lavadores de dinheiro, agressores sexuais, proxenetas, machistas. Apoiou o controle de armas, menos impostos para trabalhadores e aumento de impostos para fortunas. Entrou na lista dos cem melhores advogados da Califórnia.
Desde estudante mostrou ser afiadíssima no discurso. Eleva o tom de voz, fala de si mesma, arranca aplausos. Mulher, negra, asiática, filha de imigrantes que com unhas e dentes defende os imigrantes, representa uma onda que percorre o país e anseia por um mundo mais tolerante. Muito boa de votos, ela ameaça Trump e republicanos. Kamala pode ser a chave de ouro para o fim da era Trump. O começo do fim do predomínio do homem branco.
E pode marcar uma nova Era Feminina, na política. Há anos as mulheres vêm se preparando para a dura tarefa de comandar o mundo. Lotam universidades, tomam a palavra, ocupam lugares de influência, como senadoras, prefeitas, governadoras, presidentas ou primeiras-ministras. Kamalã, a flor de lótus, simboliza criação, fertilidade e, acima de tudo, pureza. Pois essa belíssima flor emerge das águas sujas, turvas, estagnadas. Cresce da lama sem se sujar, em busca do sol. Que assim seja…
Ana Miranda
Diário do Nordeste, 23 de agosto de 2020