Desporto e futebol
Na realidade, em muitos sectores continuamos a ser um país subdesenvolvido e com tiques de terceiro mundismo. O desporto é um deles. Por cá, os papás sonham com o futebol e a primeira coisa que fazem é colocar os seus petizes na bola ( : ) Tudo agravado por Presidentes da República e Primeiros Ministros que se apressam a assistir “in loco” a todos os jogos de uma selecção de futebol, num qualquer campeonato da Europa ou do Mundo, destilando um populismo provinciano.
Escrevo este artigo em plenos Jogos Olímpicos de Paris 2024, período no qual, pela enésima vez, Jogos após Jogos, títulos completamente absurdos irrompem em órgãos de comunicação social portugueses, nos quais se profetiza, invariavelmente, a possibilidade de atletas nacionais alcançarem medalhas olímpicas.
Se nas vésperas das provas se fantasiam não sei quantas medalhas, nos dias seguintes esses sonhos quiméricos chocam brutalmente com a dura realidade do subdesenvolvimento desportivo Português.
Aproveitando a maré, atletas e treinadores, impelidos pelos intensos anseios políticos e jornalísticos, alinham também em sonhos alucinados, esquecendo por momentos as suas condições de treino e as suas exactas capacidades físicas. Atordoados posteriormente pelos fracos resultados obtidos, argumentam desculpas esfarrapadas que a maioria das vezes os deviam envergonhar: “desequilibrei-me”, “estava nervoso”, “esta não é a minha prova”, “não estava em dia bom”, etc, etc, como se as condições que enfrentaram fossem diferentes das dos seus adversários.
Ora, nós somos o que somos e, na maioria dessas ocasiões, os resultados espelham as reais capacidades físicas e mentais dos nossos atletas, os quais fazem verdadeiros milagres face às condições que lhes foram proporcionadas por este País obcecado por futebol. Só os seus apuramentos para as Olimpíadas constituem já colossais prodígios.
Por exemplo, não sei quantos mais anos serão ainda necessários para que Portugal consiga alcançar o número de medalhas de ouro do Michael Phelps…
Na realidade, em muitos sectores continuamos a ser um país subdesenvolvido e com tiques de terceiro mundismo. O desporto é um deles. Por cá, os papás sonham com o futebol e a primeira coisa que fazem é colocar os seus petizes na bola, almejando que ali estejam futuros Ronaldos que lhes assegurem igualmente as suas reformas.
As mamãs, por seu lado, geralmente não ligam ao desporto, descuidando a prática desportiva das suas filhotas. Basta circular um pouco pelas cidades europeias de média dimensão e, comparando com a realidade portuguesa, constata-se facilmente que existe um verdadeiro problema de obesidade jovem em Portugal.
Tudo agravado por Presidentes da República e Primeiros Ministros que se apressam a assistir “in loco” a todos os jogos de uma selecção de futebol, num qualquer campeonato da Europa ou do Mundo, destilando um populismo provinciano, esperando cavalgarem possíveis vitórias que possam anestesiar o povo.
Também vão assistir às provas de canoagem do Fernando Pimenta, ou às de mariposa do Diogo Ribeiro?
Os meninos e as meninas cá no burgo deveriam, sim, ser estimulados a praticar desporto durante toda a sua infância, juventude e idade adulta, desde a natação, ao atletismo, ao basquete, ao andebol, ao voleibol, à ginástica e tantos outros.
Por isso sou tão crítico do investimento que vai ser feito em Santarém num estádio e academia de futebol, tão aplaudido por todos neste Concelho. Sim, farei parte de uma microscópica minoria que se arrepia e discorda frontalmente desse investimento de 4 milhões e 465 mil euros, acrescido de IVA. Certamente que vai dar votos e ficarei provavelmente a falar sozinho.
O caminho deveria ser outro: criar um grande parque verde na cidade para se fazer desporto, onde as famílias pudessem estar e passear, adquirindo-se, em simultâneo, terrenos que alargassem significativamente a nossa zona industrial.
Estamos a dar o dinheiro dos nossos impostos à rapaziada do futebol. Já o tiveram demais.
P.N.Pimenta Braz