Opinião | 31-07-2024 18:00

Moradores de Alhandra vão ter comboios à janela

A IP não conseguiu convencer a comunidade do concelho de Vila Franca de Xira das vantagens do projecto de duplicação à superfície da Linha do Norte.

À margem/Opinião

A administração da Infraestruturas de Portugal (IP) não conseguiu convencer a comunidade do concelho de Vila Franca de Xira, em duas sessões públicas realizadas no concelho e numa entrevista dada a O MIRANTE, das vantagens do projecto de duplicação à superfície da Linha do Norte. Praticamente o mesmo que aconteceu com a decisão de colocar pilaretes na Estrada Nacional 10 em Alhandra que continua por explicar. A empresa tem sido perita em defender-se sobre o polémico projecto de duplicação da linha do norte, evitando responder com clareza a questões tão simples como esta: se construir um túnel custa 500 milhões, então quanto vai custar o alargamento à superfície? Se esse número existe, porque não é conhecido? Não é compreensível, em pleno século XXI, que se opte por amputar duas localidades em prol de poupar uns milhões. Perder marcos históricos como por exemplo parte do jardim Constantino Palha ou o Flor do Tejo, em VFX, e ficar com uma linha de comboio a poucos metros de muitas janelas de muitas moradias de Alhandra, não parece de todo uma boa ideia.

VFX derrotada na luta pelo enterramento da Linha do Norte

Sem capacidade para reverter um projecto que vai amputar Alhandra e Vila Franca de Xira, o município assume que está na hora de atirar a toalha ao chão e estudar e reivindicar alternativas que compensem o município pelos impactos que a ampliação da ferrovia vai causar no território.

A luta pelo enterramento da duplicação da Linha do Norte no concelho de Vila Franca de Xira está perdida, admitiu o executivo municipal na última semana e por isso a hora é de começar a estudar que contrapartidas deve o concelho receber pelos impactos que o projecto da Infraestruturas de Portugal (IP) vai causar. Isto depois do novo governo ter informado a câmara que alinha com o estudo e plano inicial da IP para o alargamento da Linha do Norte à superfície.
Apesar de continuar a manifestar a sua preferência pelo enterramento, os autarcas aprovaram por unanimidade uma posição conjunta onde manifestam disponibilidade em seguir o assunto, pretendendo ser informados regularmente do andamento do projecto e continuar a tornar pública a documentação relevante para o melhor esclarecimento e conhecimento dos residentes. O executivo quer também voltar a promover mais uma apresentação pública do projecto logo que avance a consulta pública ao Estudo de Impacto Ambiental que vai entretanto ser levado a cabo pela IP. Os presidentes das juntas de freguesia de Vila Franca de Xira e de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz vão também ser convidados a acompanhar de perto o assunto e a remeter contributos e exigências de contrapartidas à IP e Governo.
Depois das férias de Verão, em Setembro, a câmara quer realizar uma reunião extraordinária apenas para recolha formal de contributos das diversas bancadas políticas para as exigências a apresentar à IP e ao governo no âmbito deste projecto. “A IP respondeu-nos dizendo que a duplicação acontecerá à superfície e apresenta um conjunto vasto de razões técnicas, como a inexistência de espaços canal suficientes para passagem dos túneis, sobretudo na zona da ponte Marechal Carmona, que não tem largura suficiente”, lamentou o presidente do município, Fernando Paulo Ferreira.
Na resposta, a IP lembra também que um túnel com tamanha extensão custaria no mínimo 500 milhões de euros e obrigaria a bombagens de água permanentes. “Pedi audiência ao ministro das Infraestruturas e perguntei se a posição do governo é coincidente com esta da IP e foi afiançado que sim, que subscrevem a posição da IP. Face a esta realidade, temos de acautelar ao máximo os impactos que isto venha a ter sobre VFX e Alhandra e conseguir que as opções tomadas sejam as melhores possível”, lamentou o autarca.

Unanimidade nas críticas À IP
Para David Pato Ferreira, da coligação Nova Geração (PSD/PPM/MPT), é um erro o governo seguir a proposta da IP de duplicação da linha à superfície. “Há pontos na explicação da IP em que é arrogante. Diz a IP que tinha de destruir a Fábrica das Palavras para fazer um túnel. Se assim fosse a estação central de Amesterdão não existia. Às vezes parece que brincamos aos Lego com mãos de criança. A IP tem uma tendência de passar atestados de ignorância a quem está à sua volta como se fossem os donos do mundo. Tenham a coragem de dizer que não há dinheiro nem vontade de fazer isto em túnel”, criticou.
Também Rui Santos, do Chega, não poupou nas palavras, acusando a IP de prejudicar o bem-estar das populações, lembrando a destruição que o projecto provocará na comunidade. “É constrangedor perceber que um ministro do PSD não ouve sequer as pessoas do seu partido, que têm interesse directo nesta situação e que decide a contento de um organismo público que devia defender o bem-estar dos cidadãos e parece ter optado por decidir o que é mais fácil e barato para aproveitar os fundos comunitários disponíveis”, condenou.
Por fim, a CDU, pela voz de José João Oliveira, lamentou que a IP insista numa solução que só é possível graças ao sacrifício das populações de Alhandra e Vila Franca de Xira. “Ficou demonstrado que não houve da IP qualquer intenção ou interesse em procurar outras soluções, deixando-nos propositadamente sem alternativas”, criticou. “Vamos assistir à destruição irremediável das duas localidades e da nossa qualidade de vida”, concluiu.

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