Uma crónica para comunistas e activistas ambientais de Vila Franca de Xira que remete para um artigo de opinião
Macacos me mordam se estou só a escrever para comunistas de cabeça empedernida e activistas que são contra as touradas mas não sabem nem querem saber que em Portugal há um milhão de cães na rua abandonados pelos donos.
A almofada da cama e a areia da praia são os melhores suportes para pousar a cabeça e ler um livro. Roubando tempo ao sono diário e mergulhos no mar, já que tenho o privilégio de ter cama e praia todos os dias do ano, ou quase, leio e percebo cada vez mais que há coisas na vida que só entram pelos olhos dentro quando se atinge uma certa idade.
Com a autoridade de leitor que pode adiar a leitura de um livro até ao último dia de vida, só agora estou a ler Vale Abraão, um dos melhores livros de Agustina Bessa-Luís que já deu filme, realizado por Manoel de Oliveira, que é bem menos interessante que o livro, como é normalíssimo nas adaptações para cinema de grandes e bons textos literários. Estou rendido e só posso comparar a emoção da leitura ao entusiasmo que sentia ao ouvir o meu avô Manuel Emídio a contar-me as histórias do cancioneiro popular. Hoje sei que esta energia que fica da leitura de um bom livro já me serve para pouca coisa que não seja o deleite da leitura. Dantes brigava com os autores e as personagens dos livros, apontava tudo o que me interessava num caderno, depois de sublinhar os livros como ainda faço hoje de forma exagerada, ou talvez não; de verdade acho que cheguei a um estágio da vida em que me sirvo da leitura dos livros como os ricos se servem do dinheiro: basta-me acumular conhecimento, como os ricos acumulam fortuna, que o resto vai-se resolvendo com o deve e haver do dia-a-dia.
O MIRANTE publica todos os dias matéria editorial que daria pano para mangas quando escrevo para este espaço. Embora a opinião seja importante num jornal, O MIRANTE é mais um jornal de grande informação que procura na notícia, na reportagem e na entrevista cumprir a sua função de serviço público. Mas esta semana não vou deixar passar o artigo de opinião de José Furtado, nesta edição, sobre o futuro aeroporto e a desgraça que vai ser para muitos munícipes do concelho de Vila Franca de Xira, e para o próprio concelho, a quadruplicação da linha ferroviária. Só quem se fingir morto pode ficar quieto e calado ao ler o artigo de José Furtado que bate numa tecla já gasta, mas nem por isso deixa de mostrar à sociedade que a solução de Alverca não pode ser ignorada e desprezada, tendo em conta o desastre que vai ser a quadruplicação da linha e a incógnita do futuro aeroporto de Lisboa em termos de financiamento e de crescimento do fluxo turístico que, a crescer desmesuradamente como todos os agentes turísticos querem, fará Lisboa rebentar pelas costuras.
Desde que o assunto entrou na agenda que O MIRANTE dá espaço aos projectos que estiveram a ser discutidos e analisados, e até a alguns como o de Alverca que ficaram pelo caminho. Por isso mesmo, ao publicarmos o artigo desta semana, gostava de aproveitar para apelar aos autarcas em geral, e aos cidadãos organizados em particular, que não virem a cara para o lado quando é preciso arrepiar caminho. Macacos me mordam se estou só a falar para comunistas de cabeça empedernida e activistas que são contra as touradas mas não sabem nem querem saber que em Portugal há um milhão de cães na rua abandonados pelos donos. JAE.